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Wednesday, August 25, 2010

Usando o Google Docs na EAD


Suas apresentações online podem ser compartilhadas com o Google Docs, um programa baseado na web que torna a colaboração de grupos mais fácil e eficiente.

Com o Google Docs você poderá armazenar documentos, planilhas, apresentações e muito mais em um local online seguro, onde podem ser acessados por pessoas autorizadas. O serviço gratuito permite que você crie esses itens em sua conta ou os transfiram de fora do serviço. Quando um item é transferido, seu criador ou outra pessoa autorizada pode trabalhar nele online usando qualquer navegador. O serviço oferece colaboração em tempo real, que permite que vários usuários trabalhem em um item simultaneamente e mantém indicação das alterações feitas por cada um.

É fácil usar o Google Docs para apresentações online. Ele permite que o usuário importe apresentações existentes, incluindo as do Microsoft PowerPoint e outras. Os usuários podem editar as apresentações online, inserindo imagens e formatando slides, de modo a atender as suas necessidades. Ele também possibilita que os usuários façam apresentações em tempo real para convidados em vários locais (desde que tenham uma conexão de Internet padrão) e que um apresentador publique seu trabalho na web, permitindo acesso de toda a comunidade da Internet.

Veja também este excelente artigo APRENDIZAGEM COLABORATIVA E INTERATIVIDADE NA WEB: EXPERIÊNCIAS COM O GOOGLE DOCS NO ENSINO DE GRADUAÇÃO CLIQUE AQUI

Google Docs suporta a maioria dos navegadores de Internet, incluindo Explorer, Netscape e Mozilla Firefox.

O desafio de aliar Tecnologia e Educação

Especialista fala sobre a difícil tarefa de combinar tecnologia e educação.

Seja por meio de celular, computador ou TV via satélite, as diferentes tecnologias já fazem parte do dia a dia de alunos e professores de qualquer escola. Contudo, fazer com que essas ferramentas de fato auxiliem o ensino e a produção de conhecimento em sala de aula não é tarefa fácil: exige treinamento dos mestres. A avaliação é de Guilherme Canela Godoi, coordenador de comunicação e informação no Brasil da Unesco, braço da ONU dedicado à ciência e à educação. “Ainda não conseguimos desenvolver de forma massiva metodologias para que os professores possam fazer uso dessa ampla gama de tecnologias da informação e comunicação, que poderiam ser úteis no ambiente educacional.” O desafio é mundial. Mas pode ser ainda mais severo no Brasil, devido a eventuais lacunas na formação e atualização de professores e a limitações de acesso à internet – problema que afeta docentes e estudantes. Na entrevista a seguir, Godoi comenta os desafios que professores, pais e nações terão pela frente para tirar proveito da combinação tecnologia e educação.

Qual a extensão do uso das novas tecnologias nas escolas brasileiras?

Infelizmente, não existem dados confiáveis que permitam afirmar se as tecnologias são muito ou pouco utilizadas nas escolas brasileiras. Censos educacionais realizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) mostram que a maioria das escolas públicas já tem à sua disposição uma série de tecnologias. No entanto, a presença dessas ferramentas não significa necessariamente uso adequado delas. O que de fato se nota é que ainda não conseguimos desenvolver de forma massiva metodologias para que os professores possam fazer uso dessa ampla gama de tecnologias da informação e comunicação, que poderiam ser úteis no ambiente educacional.

Quais devem ser as políticas públicas para incentivar as tecnologias em sala de aula?

Elas precisam ter um componente fundamental de formação e atualização de professores, de forma que a tecnologia seja de fato incorporada no currículo escolar, e não vista apenas como um acessório ou aparato marginal. É preciso pensar como incorporá-la no dia a dia da educação de maneira definitiva. Depois, é preciso levar em conta a construção de conteúdos inovadores, que usem todo o potencial dessas tecnologias. Não basta usar os recursos tecnológicos para projetar em uma tela a equação “2 + 2 = 4″. Você pode escrever isso no quadro negro, com giz. A questão é como ensinar a matemática de uma maneira que só é possível por meio das novas tecnologias, porque elas fornecem possibilidades de construção do conhecimento que o quadro negro e o giz não permitem. Por fim, é preciso preocupar-se com a avaliação dos resultados para saber se essas políticas de fato fazem a diferença.

As novas tecnologias já fazem parte da formação dos professores?

Ainda é preciso avançar muito. Os dados disponíveis mostram que, infelizmente, ainda é muito incipiente a formação de professores com a perspectiva de criação de competências no uso das tecnologias na escola. Com relação à formação continuada, ou seja, à atualização daqueles profissionais que já estão em serviço, aparentemente nós temos avanços um pouco mais concretos. Há uma série de programas disponíveis que oferecem recursos a eles.

Para os alunos, qual o impacto de conviver com professores ambientados com as novas tecnologias?

As avaliações mais sólidas a esse respeito estão acontecendo no âmbito da União Europeia. Elas mostram que a introdução das tecnologias nas escolas aliada a professores capacitados têm feito a diferença em alguma áreas, aumentando, por exemplo, o potencial comunicativo dos alunos.

As relações dentro da sala de aula mudam com a chegada da tecnologia?

O que tem acontecido – e acho que isso é positivo, se bem aproveitado – é que a relação de poder professor-aluno ganha uma nova dinâmica com a incorporação das novas tecnologias. Isso acontece porque os alunos têm uma familiaridade muito grande com essas novidades e podem se inserir no ambiente da sala de aula de uma maneira muito diferente. Assim, a relação com o professor fica menos autoritária e mais colaborativa na construção do conhecimento.

É comum imaginar que em países com um alto nível educacional a integração das novas tecnologias aconteça mais rapidamente. Já em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde muitas vezes o professor tem uma formação deficitária, a incorporação seja mais lenta. Esse pensamento é correto?

Grandes questões sobre o assunto não se colocam apenas para países em desenvolvimento. É o caso, por exemplo, de discussões sobre como melhor usar a tecnologia e como treinar professores. O mundo todo discute esses temas, porque essas novas ferramentas convergentes são um fenômeno recente. Porém, também é correto pensar que nações onde as pessoas são mais conectadas e têm mais acesso a dispositivos devem adotar a tecnologia em sala de aula de modo mais amplo e produtivo. Outro fenômeno detectado no mundo todo é o chamado “gap geracional”, ou seja, os professores não nasceram digitalizados, enquanto seus alunos, sim.

O senhor vê algum tipo de resistência nas escolas brasileiras à incorporação da tecnologia?

Não acredito que haja uma resistência no sentido de o professor acreditar que a tecnologia é maléfica, mas, sim, no sentido de que ele não sabe como utilizar as novidades. Não se trata de saber ou não usar um computador. Isso é o menor dos problemas. A questão em jogo é como usar equipamentos e recursos tecnológicos em benefício da educação, para fins pedagógicos. Esse é o pulo do gato.

Quais os passos para superar a formação deficitária dos professores?

A Unesco sintetizou em livros seu material de apoio, chamado Padrões de Competências em Tecnologia da Informação e da Comunicação para Professores. Ali, dividimos o aprendizado em três grandes pilares. O primeiro é a alfabetização tecnológica, ou seja, ensinamos a usar as máquinas. O segundo é o aprofundamento do conhecimento. O terceiro pilar é chamado de criação do conhecimento. Ele se refere a uma situação em que as tecnologias estão tão incorporadas por professores e alunos que eles passam a produzir conhecimento a partir delas. É o caso das redes sociais. É importante lembrar que esse processo não é trivial, ele precisa estar inserido na lógica da formação do professor. Não se deve achar que a simples distribuição de equipamentos resolve o problema.

Fonte: revista veja: 09/06/2010

Friday, August 20, 2010


Tuesday, August 17, 2010

Panorama da educação superior no Brasil


Soberania nacional, como alcançar essa nobre meta? Certamente investir em educação é um dos caminhos para um país que deseja priorizar o processo de desenvolvimento da nação. Entre crises e soluções, o leitor acompanhará um panorama da educação superior no Brasil — um segmento que precisa estar apto a enfrentar desafios e responder às reais necessidades da população.


Breve histórico da educação superior no Brasil e no mundo

As primeiras universidades surgiram na Europa medieval, na Itália e na França, durante o renascimento do século XII. Estudos mais abrangentes, porém, indicam a existência desse tipo de instituição desde 387 a.C. Segundo esses estudos, a Academia fundada pelo filósofo Platão, no bosque de Academos, perto de Atenas, seria, então, a pioneira.

E no Brasil, quando foi instituída a primeira universidade?

Para responder a essa questão, é importante entender que, no início do século XIX, quando nasciam as nações-estado latino-americanas, estabelecia-se também a idéia de que cada novo país teria de ter instituições de ensino superior que promovessem valores em aspectos de modernidade e racionalidade. No Uruguai, Chile, Argentina e Peru, então, apareceram as universidades nacionais de ponta. Já no Brasil, somente cerca de cem anos depois, em 1934, foi criada a primeira universidade: a Universidade do Estado de São Paulo (USP), que se tornou, ao longo dos anos, a principal instituição acadêmica do País.

Além da USP, o Brasil conta atualmente com 2.398 instituições de ensino superior, que se dividem em universidades, faculdades, centros de educação tecnológica, entre outras, nos segmentos privado e público.

E assim caminha a... universidade


Mesmo com mais de duas mil instituições, o Brasil ainda apresenta índices de acesso ao ensino superior inadequados ao que realmente deveria oferecer.

Porém, segundo o censo realizado em 2005 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), houve um aumento na oferta, na procura e no ingresso nesse nível educacional. Os dados mostram que “em 2005 foram oferecidas 2.435.987 vagas pelo sistema de educação superior, 115.566 a mais que no ano anterior (aumento de 5%). Inscreveram-se, em 2005, para disputar essas vagas 5.060.956 candidatos, 6.964 a mais que em 2004, representando um acréscimo de 0,14% na demanda por vagas. Efetivamente, ingressaram na educação superior 1.397.281 novos alunos, perfazendo um total de 4.453.156 matriculados”.

A preocupação em realmente ampliar o acesso ao ensino superior, assim como oferecer uma educação que projete o cidadão para um pólo de transformação nas dimensões econômica, política, social e cultural da sociedade, têm gerado diversas discussões há algum tempo.

Em novembro de 2003, ocorreu em Brasília o “Seminário Internacional Universidade XXI — Novos Caminhos para a Educação Superior: o Futuro em Debate”. Realizado pelo Ministério da Educação (MEC), o evento tinha como objetivo a promoção de um amplo debate acerca do panorama da educação superior no mundo contemporâneo, visando a fundamentos para uma reforma do sistema brasileiro de educação superior.

Na ocasião, discutiu-se a crise vivida pelo ensino superior no País. Segundo os trabalhos expostos, havia “insuficiência de oportunidades educacionais”, o nível de atendimento a jovens na faixa etária de 18 a 24 anos não ultrapassava 11%. Os debates também apontaram: “no setor da educação pública, há problemas de investimento; de expansão; de democratização; de qualidade; de gestão; de avaliação de processos e produtos. No setor privado, há problemas de supervisão e controle e de qualidade.

O seminário atentou-se em deixar contribuições para a elaboração de um projeto de reforma do sistema de educação superior no Brasil. E lançou diretrizes para um novo modelo de universidade, que vise a um aprimoramento da qualidade e quantidade do que é oferecido nesse campo educacional (Veja quadro abaixo).

Diretrizes para uma nova universidade

• Promover a democracia, autonomia e justiça social como valores

• Garantir a diversidade preservando as diferenças culturais

• Promover a inclusão social

• Integrar Ciência & Tecnologia

• Promover a interação entre o local e o global

• Desenvolver esforço sistemático de diálogo inter e transdisciplinar.

• Desenvolver a multi e interdisciplinaridade

• Integrar conhecimento, educação e produção

• Estabelecer a avaliação e o controle como um processo social e de fortalecimento da autonomia

• Apropriar-se de ferramentas gerenciais e do planejamento estratégico

Fonte: Novos caminhos para a educação superior (2004). http://portal.mec.gov.br. Acesso em: 16 de janeiro de 2008.

O Anteprojeto de Lei da reforma da educação superior


Historicamente, a idéia da reforma no ensino superior já vem desde 1931, no período pós-revolução, quando foi assinada a primeira proposta. A segunda, porém, só apareceu em 1968. Ambas estimulavam o raciocínio da educação num processo mercantilista.

Em 2004, outras discussões a respeito da reforma, que deram início à formulação do Anteprojeto de Lei da reforma da educação superior no Brasil. Um ano depois, no mês de julho, o plano foi entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por Tarso Genro, logo que este deixou o Ministério da Educação. Havia o registro de fundamentações e estratégias para democratizar e qualificar as instituições de ensino públicas e privadas do País.

Uma quarta versão foi apresentada ao governo em junho de 2006. Muitos pontos do documento, porém, ainda desagradam as entidades que representam as universidades públicas, particulares e os estudantes. Muitos dizem que não há novidades, apenas a inserção de medidas de caráter burocrático, visando ao fortalecimento das instituições federais de ensino superior (IFES) e a um maior controle das instituições particulares.

Com novos estudos sobre o anteprojeto, o atual Ministro da Educação, Fernando Haddad, pretende tirar o País dos 11% (índice que se mantém desde 2003) e alcançar a meta de 30% em relação às oportunidades de ingresso ao ensino superior para jovens entre 18 e 24 anos; isso até 2011. Segundo o ministro, o Plano Nacional de Educação prevê investimentos em recursos para as universidades federais e em cursos tecnológicos superiores.

Políticas e programas de ações afirmativas


Ações afirmativas são medidas adotadas pelo Estado, principalmente em instituições federais para suprimir desigualdades raciais, étnicas, religiosas, de gênero e outras. Porém, algumas universidades e faculdades particulares também adotam programas; e quem o faz isenta-se de determinados impostos.

Essas ações têm a incumbência de proporcionar àqueles que advêm de lares menos favorecidos financeiramente um plano de educação superior. Assim, o Governo acredita transformar a estrutura social brasileira, eliminando o fator da exclusão discriminatória. Existem várias ações, das quais a mais conhecida é o Programa Universidade para Todos (ProUni). Instituído em 2005, sua proposta é conceder bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de baixa renda, o que vale para graduação e cursos seqüenciais de formação específica. (Para saber mais sobre os programas lançados pelo Governo, acesse: http://portal.mec.gov.br.)

Os ideais da educação Soka


Tsunessaburo Makiguti foi um grande educador japonês, que acreditava no potencial ilimitado do ser humano. Fundou, em 1930, a Soka Kyoiku Gakkai (Sociedade Educacional de Criação de Valores), predecessora da Soka Gakkai, uma organização, baseada nos princípios budistas e voltada à paz, cultura e educação.

Atualmente, os ideais educacionais de Makiguti estão, entre outros, presentes na concretização de um sonho também acalentado por Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI) — uma universidade dedicada à formação de pessoas, de cidadãos do mundo. No Oriente, Ikeda fundou a Universidade Soka, em terras japonesas; e, no Ocidente, a Universidade Soka da América (SUA), localizada na Califórnia, Estados Unidos.

Num encontro com os estudantes da SUA, Daisaku Ikeda, orientou-lhes da seguinte maneira: “As universidades deveriam existir para os que estão impossibilitados de freqüentá-las. ‘Para quem é destinada uma universidade?’ ‘Qual é a finalidade de uma universidade?’ ‘Qual é o propósito do aprendizado?’ — jamais devemos perder de vista esses pontos fundamentais”.

Ainda nessa ocasião, o presidente da SGI afirmou: “Foram os pobres que ergueram essas esplêndidas salas. Este local foi construído com o sangue e o suor dos trabalhadores. Vocês nunca liquidarão essa dívida a menos que dediquem o resto da vida a serviço dessas pessoas. A SUA é uma universidade construída pelo povo e para o povo. Sem o apoio de uma rede de pessoas sinceras e de boa-vontade, a concretização do sistema educacional Soka, do jardim-de-infância ao nível universitário, também não teria sido possível”.

No Brasil, também só foi possível implementar o sistema (que abrange da educação infantil ao ensino fundamental) graças aos esforços das pessoas que acreditaram no ideal de Daisaku Ikeda. Quem sabe o País possa sediar uma universidade Soka? Certamente será “construída para o povo e pelo povo”.

Educação no século XXI


Apesar de a proposta visar à melhoria do sistema educacional japonês, ela é válida para muitas nações pelo fato de problemas como a violência nas escolas, a abstenção dos alunos, a queda da qualidade de ensino e a conseqüente redução na capacidade de aprendizado e muitos outros serem de ocorrência comum.

A SGI sempre teve como uma de suas metas principais o desenvolvimento da educação por acreditar que por meio dela o verdadeiro humanismo e a paz podem ser alcançados. Eis por que o presidente Ikeda tanto enfatiza a importância da educação para este século.

Uma outra razão para a valorização da educação deve-se ao fato de os fundadores da Soka Gakkai, Tsunessaburo Makiguti e Jossei Toda, terem sido educadores.

No capítulo “Flor da Cultura”, do romance Nova Revolução Humana, o autor Daisaku Ikeda destaca o papel fundamental da educação para o progresso da sociedade e da humanidade. Ele diz: “A ascensão e a ruína de um povo ou de uma nação dependem inteiramente da educação.” E cita um episódio muito interessante que enfatiza ainda mais esse ponto: “Um líder religioso judeu visitou uma cidade e disse que queria conhecer suas fortificações. A autoridade local levou-o até a fortaleza onde estavam os soldados. Depois da vistoria, o líder religioso disse: ‘Ainda não vi as fortificações. Quem protege a cidade são os professores e não os soldados. Por que o senhor não me levou primeiro para conhecer uma escola?’”

Importantes realizações empreendidas pela SGI no campo educacional estão sendo aguardadas com grande expectativa. Uma delas é a inauguração do campus da Universidade Soka da América em Aliso Viejo, no Condado de Orange, Califórnia, Estados Unidos. No Brasil, está prevista a inauguração ainda para este ano do Centro de Convivência Infantil Soka.

Com certeza, esses feitos marcarão grandes passos para a edificação de um verdadeiro “Século do Humanismo”.

Construindo uma sociedade que sirva às necessidades fundamentais da educação

Algumas considerações sobre a educação no século XXI

A indepêndencia da educação

Gostaria de apresentar algumas sugestões específicas para a reforma do sistema educacional.

Diante da crise na educação, foi fundado, em março de 2000, o Conselho Nacional de Reforma Educacional (NCRE, sigla em inglês), uma junta consultiva do primeiro-ministro japonês para discutir, junto com vários organismos do Ministério da Educação, sobre a direção que deve ser dada à reforma educacional.

Embora seja natural a educação ser reconhecida como uma questão de máxima importância para a nação, a reforma não deve ser conduzida em etapas buscando simplesmente paliativos para solucionar problemas específicos, mas sim com uma perspectiva de longo prazo. Como a educação está inextricavelmente inter-relacionada com a sociedade, é natural que o processo de responder às mudanças dos tempos pode acarretar um grau de tentativa e erro. No entanto, a orientação da reforma foi, com freqüência, fortemente afetada pela tendência política da época ou formada por contramedidas míopes que consistem simplesmente de reações para as mudanças no ambiente imediato. Isso foi também um problema no Japão anterior à guerra. Em Sistema Pedagógico de Criação de Valor,1 publicado há setenta anos, Makiguti indicou: “Assim como a dificuldade com qualquer prédio muito antigo, nosso sistema educacional totalmente instável acabou com uma interminável sucessão de medidas provisórias. Nossas escolas são incapazes de responder às exigências da nova era e, como conseqüência, estão orientando mal o progresso futuro dos jovens que nelas ingressam. Essa situação é realmente lamentável.”

Desafiando a natureza míope e superficial das atuais tentativas do Japão de reformar o sistema educacional, ele propôs a criação de duas novas instituições para desenvolver uma perspectiva educacional visando à nova era, ou seja, uma “sede educacional” para atuar como uma agência central permanente e independente para a educação e um “instituto nacional para pesquisa educacional” para dar assistência à sede. Este último foi de fato fundado logo após a guerra, mas uma agência central como ele havia imaginado ainda não foi concretizada.

O NCRE poderia cumprir essa função em potencial mas, por ser um organismo ad hoc, haveria o risco de essa importante questão ser tratada como uma medida provisória. Por essa razão, gostaria de propor o estabelecimento de uma comissão central permanente que se comprometa com a reconstrução a longo prazo de toda a estrutura do sistema educacional. E deveria ser organismo independente e institucionalmente isolado de toda e qualquer influência política. É indispensável assegurar a independência como um meio para evitar a descontinuidade nas políticas educacionais no caso de mudanças na administração e também para evitar reformas arbitrárias causadas pela interferência política.

Já há algum tempo sugeri que a estrutura da divisão de poderes fosse expandida à educação proporcionando status e independência iguais aos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Como a educação é um grandioso empreendimento que forma os indivíduos das futuras gerações, deve ser totalmente livre da interferência política. Essa era também a intenção de Makiguti e seu aliado e sucessor, Jossei Toda, que promoveram uma abnegada campanha, durante as décadas de vinte e trinta, contra a educação nacionalista, que empurrava o Japão para a guerra.

Essa comissão central permanente deveria então assumir a liderança em estabelecer firmes princípios e diretivas de longo prazo para a reforma da educação ao mesmo tempo em que se mantém em contato com organizações tais como o Instituto Nacional para a Pesquisa Educacional do Japão.

Além dessa missão vital, essa comissão central permanente teria um foco mais amplo que daria condições ao Japão de abrir um novo caminho para a contribuição internacional. A base da paz mundial serão o intercâmbio e a cooperação internacionais no cenário educacional, transcendendo os interesses nacionais. É por essa razão que tenho alimentado um sonho, concebido há mais de vinte anos, e que poderia ser chamado de “Nações Unidas da Educação”,2 com a finalidade de tornar a educação livre da interferência política em todo o mundo.

Se o Japão assumisse o papel de promover a independência da educação em todo o mundo com o estabelecimento de uma comissão educacional permanente como essa, isso sem dúvida ajudaria a criar uma nova identidade para o Japão como um país devotado à educação. No mês de abril deste ano, o Japão patrocinou a realização da primeira Cúpula da Educação do G8, da qual participaram ministros da educação. Gostaria de propor que no futuro o Japão apoiasse ativamente a realização regular de cúpulas internacionais sobre educação, promovendo uma ampla gama de intercâmbios não apenas no nível governamental como também entre indivíduos ativamente engajados na educação. Assim como ficou ratificado na Cúpula da Educação do G8, as questões educacionais não estão limitadas aos países. Por conseguinte, o Japão deve assumir um papel fundamental na condução de outros países à cooperação internacional para abrir um novo horizonte para a educação no século XXI.

A educação em crise

Prestes a adentramos o século XXI, a educação é uma vez mais foco de considerável discussão. No Japão, o debate tem se concentrado na reforma educacional. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para responder a recentes questões levantadas e oferecer algumas sinceras opiniões a esse debate bem como fazer algumas propostas concretas.

Um problema muito comum recentemente tem sido o das crianças que, por várias razões, particularmente pelos maus tratos, recusam-se a ir à escola. Diz-se que o problema pode afetar qualquer criança no país: a pesquisa anual do Ministério da Educação do Japão nas escolas japonesas revela que a abstenção nas escolas de nível fundamental atingiu um número sem precedentes de mais de 130 mil estudantes em 1999. Isso significa que, no nível elementar, um de cada 290 estudantes não consegue ou não deseja ir à escola e, no ensino médio, um de cada quarenta, ou seja, uma média de um estudante por classe.

No Japão, tem ocorrido uma terrível série de suicídios em escolas e outras tragédias resultantes de maus tratos. E a crise aumenta, ao mesmo tempo em que o problema mundial da dependência das drogas também se espalha no país. Além disso, tem havido uma série de crimes de adolescentes em anos recentes: uma sucessão de homicídios cometidos por jovens entre quatorze e quinze anos e, apenas no ano passado, crimes que chocaram a opinião pública japonesa, como o seqüestro sem motivo de um ônibus por um jovem de dezessete anos, matando uma pessoa e causando graves traumas em todos os outros passageiros, e o de um garoto que brutalmente golpeou a mãe até a morte com um bastão de beisebol — crimes que praticamente seriam impensáveis no Japão há poucos anos.

Os profissionais nos campos da psicologia juvenil e da educação analisam essas questões em busca de soluções. Contudo, falando claramente, a sociedade adulta ainda não consegue tratar esses problemas. Chocados com essa monstruosidade, sentimo-nos desamparados ante essa indescritível tendência.

Como um indivíduo que aspira ao desenvolvimento de jovens saudáveis que se responsabilizarão pelo futuro, redigi uma proposta para uma reunião nacional da Divisão de Educadores há dezesseis anos intitulada “Pensamentos sobre os objetivos da educação”.1 Fundamentado no princípio de que a reforma educacional deveria ser norteada pelo humanismo e não pela política, apresentei nessa proposta um ideal humanístico imbuído de criatividade, internacionalismo e totalidade.

Lembro que também naquela época a crise da educação era uma questão de grande preocupação, e pais e professores e muitos outros indivíduos estavam profundamente preocupados com questões como comportamentos problemáticos, violência nas escolas e abstenção. Cerca de quinze anos se passaram desde então e, infelizmente, a despeito dos esforços das pessoas envolvidas, não somente não houve nenhuma melhora mas essa situação tornou-se hoje a norma, e vários outros problemas surgiram em conseqüência.


A fuga do aprendizado

Um dos problemas mais sérios recentemente é o do colapso da disciplina nas escolas à medida que as aulas tornaram-se incontroláveis devido ao comportamento intempestivo dos estudantes. O problema era inicialmente característico do ensino médio, mas vem afetando também o nível fundamental nos anos recentes. Nos casos mais graves, as crianças já estão indisciplinadas na época em que entram no nível elementar vindas do jardim-de-infância, perturbando totalmente as aulas.

Há pesquisas que indicam que um terço dos professores nas salas de aula, cuja função é a de se responsabilizar por essas crianças, relatam que ficam tão frustrados que chegam a pensar em desistir de tudo. Se nada for feito, poderemos ver a disfunção de todo um sistema escolar.

Outro problema grave é o declínio do nível de aprendizado. A aversão dos estudantes ao estudo, como visto por seu desgosto por matérias como matemática ou ciências, está se tornando um sério problema. Vários estudos demonstram como o nível de aprendizado das crianças japonesas está decaindo e como hoje isso afeta o ensino médio e os posteriores.

Há relatórios — que seriam cômicos se não fossem chocantes — de estudantes universitários que não compreendem até mesmo os conceitos mais básicos.

Vou me referir a essa situação como “a fuga do aprendizado”. Não acho que seria dramático descrever essa situação como uma derrota da educação, o fracasso de nosso sistema educacional para realizar suas funções essenciais: prover de nutrientes espirituais que nos possibilitem desenvolver nossa criatividade aprendendo com a sabedoria de nossos predecessores e, dessa forma, tendo acesso ao patrimônio cultural comum que a humanidade transmite de geração a geração.

Em 2002, as escolas japonesas reduzirão a semana escolar de seis para cinco dias. Em consonância com isso, o Ministério da Educação está introduzindo um currículo escolar totalmente revisado que objetiva cultivar nas crianças o “gosto pela vida”, fornecendo-lhes condições para crescer. Essa ação deve, penso eu, refletir as críticas ao método convencional que enfatiza demais a competição escolar e é uma das principais causas da “fuga do aprendizado”.

Entretanto, há muitas dúvidas quanto a se essa mudança conduziria a um genuíno renascimento do ensino ou a um desenvolvimento abrangente da capacidade de aprendizado dos estudantes. Essas preocupações baseiam-se na possibilidade de a redução na carga horária, em vez de promover o estudo voluntário como pretendido, resultar em crianças que passam mais tempo assistindo à televisão e jogando videogames, não produzindo portanto os resultados esperados.

Eu partilho essas ansiedades. Embora o sofrimento das crianças, como simbolizado pela abstenção, deva ser tratado imediatamente, não posso acreditar que os problemas subjacentes sejam solucionados simplesmente consertando o sistema.


As crianças são o espelho da sociedade

Assim, o que está por trás da patologia de nossas crianças de se afastarem da escola, de seu comportamento problemático e da “fuga do aprendizado” que é excessivo na sociedade contemporânea? Acredito que a causa fundamental esteja no completo declínio das funções educacionais que deveriam ser inerentes não apenas às escolas mas também a nossa comunidade, família e à sociedade como um todo.

Se é a educação, em seu mais amplo sentido, que possibilita aos seres humanos expressarem verdadeiramente sua humanidade, então deve haver uma desordem funcional na sociedade japonesa contemporânea que impede os indivíduos de se tornarem genuinamente maduros. Esse colapso manifesta-se mais agudamente no mais frágil e sensível integrante de nossa sociedade, ou seja, a criança. Correndo o risco da extrema simplificação, jamais devemos nos esquecer do tradicional dito “as crianças são o espelho da sociedade” quando consideramos os problemas da educação.

A menos que os adultos reflitam para se corrigirem naquilo que as crianças espelham, as tentativas para reformar o sistema, embora bem intencionadas, acabarão definitivamente em medidas temporárias ou substitutas que simplesmente não atingirão o âmago do problema.

Encontrei as seguintes e comoventes palavras num artigo sobre educação moral escrito por Taiti Yamada: “Nossas crianças precisam muito mais do que sermões vazios sobre virtude. Como adultos, devemos de alguma forma demonstrar-lhes na prática como viver uma vida melhor.”²

A verdade, contudo, é que o mundo adulto revelado repentinamente após o final do período de rápido crescimento econômico do Japão e após o colapso da “bolha” econômica está num estado extremamente triste e obscuro, aproximando-se do novo século sem praticamente nenhuma vitalidade. Seja na política, na burocracia, nos negócios, nos meios de comunicação, a elite tem se comportado vergonhosamente, totalmente voltada à autodefesa, fugindo da responsabilidade social e protegendo seus próprios interesses.

A sociedade japonesa está repleta de materialismo e de uma escandalosa corrupção entre adultos, uma situação simbolizada por um grande número de casos de crimes relacionados a recebimento de seguro que demonstram a perda de valores e de senso de propósito. Isso lançou definitivamente uma sombra de trevas no coração de nossas crianças. Numa sociedade carente de modelos que possam inspirar a próxima geração, é natural que a educação não funcione adequadamente.

Há indubitavelmente muitos indivíduos que não são afetados pelo sensacionalismo dos meios de comunicação e que continuam a trabalhar com sinceridade, aderindo à crença de que o essencial é, nas palavras do Sr. Yamada, “demonstrar na prática como viver uma vida melhor”. Entretanto, mesmo essas pessoas encontram dificuldades em sustentar esses princípios. O fato de que as pessoas estão louvando uma imagem superidealizada dos “bons dias da era Meiji”3 talvez reflita o fato de que sintam uma deficiência espiritual na sociedade japonesa contemporânea.


Revendo a Lei Fundamental da Educação

Acredito que esses problemas são também parte dos motivos que sustentam os clamores por uma revisão e possível reforma da Lei Fundamental da Educação, o eixo principal do sistema educacional do pós-guerra, como parte de uma série de planos para a reforma educacional.

O relatório de julho de 2000 feito pelo conselho particular do primeiro-ministro e pelo Conselho Nacional de Reforma Educacional (NCER) declara que a visão predominante era a da necessidade de reformar a Lei Fundamental da Educação e de que no “preâmbulo e provisões do Artigo 1º, havia uma exagerada ênfase no indivíduo e na humanidade universal e a omissão do respeito pela nação, pela comunidade, pela tradição, pela cultura, pelo lar e pela natureza”.

De fato, é difícil não concordar com os princípios declarados no preâmbulo e no Artigo 1º. O Artigo 1º da Lei Fundamental da Educação estipula que os objetivos da educação são os seguintes:

A educação deve visar ao pleno desenvolvimento da personalidade, empenhando-se em criar pessoas, saudáveis em mente e corpo, que amem a verdade e a justiça, estimem os valores individuais, respeitem o trabalho e tenham um profundo senso de responsabilidade e estejam imbuídas de um espírito independente, como construtoras de um Estado e uma sociedade pacíficos.4

Essa é uma declaração perfeitamente aceitável do princípio universal de “pleno desenvolvimento da personalidade” embasado no princípio do respeito pela dignidade individual e é pertinente às pessoas de todas as épocas e culturas.

Entretanto, ao aplicar esse princípio universal, sua relevância deve ser testada no contexto ético e social. Nesse sentido, penso que aqueles que elaboraram essa lei não foram suficientemente específicos. As pessoas não conseguem compreender a fundo o que o indivíduo realmente significa nesse contexto.

De fato, o indivíduo somente pode tornar-se plenamente realizado em interação com os outros e, para isso, é necessário controlar o egoísmo. Talvez isso seja tão evidente que os elaboradores da lei não prestaram muita atenção a esse ponto. Não conseguiram se conscientizar totalmente dos perigos do individualismo degenerando no egoísmo.

Dessa forma, qualquer reforma ou revisão da lei proposta pelo NCER deve estar fundamentada numa clara compreensão da maneira como esses princípios universais encontram expressão dentro de particularidades culturais. E acredito que essa mesma preocupação tenha motivado Tatsuo Morito, ministro da Educação, que teve um importante papel na elaboração da Lei Fundamental da Educação e que posteriormente expressou suas dúvidas quanto a sua efetividade.

Embora não seja mencionado no relatório do conselho, há um clima reacionário no país clamando pelo retorno do espírito contido no seguinte trecho do Édito Imperial sobre Educação para corrigir essas deficiências.

Vós, nossos vassalos, sede filiais aos vossos pais, afeiçoados a vossos irmãos e irmãs; como maridos e esposas, sede harmoniosos, como amigos fiéis; conduzi-vos na modéstia e na moderação; estendei vossa benevolência a todos...5

Apenas encher o texto com referências à cultura, à tradição e ao lar não produzirá, creio eu, muito efeito. Sem dúvida, a restauração das virtudes expostas no Édito Imperial sobre Educação seria totalmente anacrônica quando se considera o papel que o Édito assumiu no Japão imperial e no sistema patriarcal antes e durante a guerra.6

A Lei Fundamental da Educação tem sido o eixo principal do sistema educacional do pós-guerra no Japão e, por essa razão, acredito que qualquer reforma deva ser empreendida somente após cuidadosa reflexão e revisão; uma revisão apressada deve ser evitada.


Uma mudança de paradigma

O moderno sistema educacional japonês chegou a uma conjuntura crítica. Estamos testemunhando as conseqüências de a educação ser subordinada a várias agendas burocráticas e políticas sob o controle do Ministério da Educação.

O progresso do Japão moderno, seja ele na política anterior à guerra de construir a prosperidade nacional e a força militar ou na tensão do pós-guerra em se tornar uma superpotência econômica, foi motivado por um imperativo nacional incondicional de alcançar e superar o avanço dos países do Ocidente. Ao mesmo tempo, já desde a era Meiji a educação tem sido coercitivamente utilizada como um meio de atingir esses objetivos. Ambas as abordagens estão hoje evidentemente num impasse à medida que o Japão é agora compelido a uma transformação de uma era de industrialização para uma era de informação. Portanto, considerando a educação do século XXI, gostaria de declarar que a necessidade mais urgente é uma mudança do paradigma de olhar para uma “educação em prol da sociedade” para a construção de “uma sociedade que sirva às necessidades fundamentais da educação”.

Ao formular o paradigma conceitual de “uma sociedade que sirva às necessidades fundamentais da educação”, fui inspirado pelo professor Robert Thurman da Universidade de Columbia. A cada oportunidade que tive de encontrá-lo, ficava mais impressionado pela profundidade de sua visão. Numa entrevista feita pelo Centro de Pesquisas de Boston (BRC),7 ele foi questionado sobre como considerava o papel da educação na sociedade. E respondeu: “Creio que a questão deva ser a seguinte: ‘Qual o papel da sociedade na educação?’ Porque em minha visão a educação é o propósito da vida humana.”

É realmente um discernimento perspicaz. O professor Thurman diz que essa visão deve-se principalmente às influências dos ensinos de Sakyamuni, a quem ele considera um dos primeiros professores da humanidade. Isso está de acordo com a filosofia ética de Kant, o qual insiste que devemos respeitar a autonomia dos outros e que os seres humanos jamais devem ser usados como um meio para um fim.

Aprender é o exato propósito da vida humana, o fator primário no desenvolvimento da personalidade e o que torna os seres humanos verdadeiramente humanos. Entretanto, o desenvolvimento da personalidade tem sido consistentemente reduzido a uma posição subordinada e visto como um meio para outros fins. Essa visão tem prevalecido no mundo inteiro por toda a história moderna e particularmente no século XX.

Dessa forma, o sistema educacional foi reduzido a mero mecanismo que serve a interesses nacionais, sejam eles políticos, militares, econômicos ou ideológicos. Um certo tipo de personalidade, não o pleno desenvolvimento da personalidade, foi buscado, como se lançasse os indivíduos a um molde uniforme.

Tratar a educação como um meio em vez de um fim reforça uma visão utilitária da própria vida humana.

É uma terrível tragédia que o século XX tenha sofrido incessantemente com guerras e violência e tenha se tornado uma era sem precedentes de matança em massa. É desnecessário dizer que isso demonstra um aumento na capacidade de matar, o legado negativo do avanço tecnológico. Sinto que isso se deve, em grande parte, a uma mudança de valores na civilização moderna, por deixar de considerar os seres humanos como a base dos valores e, em vez disso, meramente designar papéis subordinados à educação, que deveria ser uma atividade humana primária e fundamental.

Nesse sentido, sinto certa ansiedade quanto às atitudes com relação à revolução da tecnologia de informação (em inglês, “information technology, IT”). Como descrito na Carta de Okinawa sobre a Sociedade de Informação Global na Cúpula Okinawa-Kyushu este ano, “a tecnologia de informação e comunicação é uma das forças mais poderosas para moldar o século XXI”.8 Não há dúvida de que a “revolução IT” se tornará uma das megatendências no século vindouro e é naturalmente importante que não seja deixada para trás.

Professores universitários e autoridades têm observado com freqüência que a decadência da proficiência acadêmica entre os estudantes japoneses, especialmente na matemática e nas ciências, se não solucionada, pode afetar negativamente a capacidade tecnológica e econômica japonesa e conseqüentemente retardar o Japão na corrida mundial rumo à revolução IT. A apreensão com relação a essa situação é perfeitamente natural.

Embora a globalização tenha naturalmente tanto aspectos positivos quanto negativos, a correnteza para a internacionalização no século XXI não pode ser detida. Nenhum país pode deixar de ser afetado.

Porém, minha apreensão pessoal é quanto à possibilidade de trilharmos os passos do passado, ou seja, retornar à idéia de “educação em prol da sociedade” ao tratar do problema de como desenvolver o nível acadêmico de nossos estudantes.

Da mesma forma que a revolução IT tem por natureza o potencial para provocar uma mudança de paradigma na sociedade contemporânea, sua influência contém tanto um potencial positivo quanto negativo. Entretanto, minha observação sobre a atual situação é que somente os aspectos positivos e otimistas têm sido salientados.

Nos Estados Unidos, país que primeiro antecipou a revolução IT, especialmente no setor financeiro, e que algumas vezes parece ter talhado para si uma posição de monopólio em que o materialismo e o “capitalismo-cassino” têm sucesso, as trevas da revolução IT certamente lançam crescentes sombras. Se tudo o que essa nova invenção da tecnologia de informação traz à sociedade humana é uma tendência para o materialismo, então, para que serve essa revolução?


Uma sociedade que confunde felicidade com prazer

Diante dessa tendência, precisamos retornar ao âmago da questão dos valores humanos. Creio ser preciso redefinir o crucial conceito de “desenvolvimento da personalidade”.

As pessoas tomam essa frase, descrita como o objetivo da educação na Lei Fundamental da Educação, como premissa. Mas esse é um objetivo universal por cuja concretização e implementação devemos nos empenhar. Esse é um conceito fundamental e jamais poderá ser reenfatizado o suficiente como a chave para a reforma educacional.

Com essa finalidade, vamos fazer um experimento substituindo a expressão “desenvolvimento da personalidade” pela palavra “felicidade”. O primeiro presidente da Soka Gakkai, Tsunessaburo Makiguti, um brilhante educador, nunca deixava de salientar que o propósito da educação é assegurar a felicidade das crianças.

Hoje, a pedagogia de Makiguti está gradativamente obtendo reconhecimento internacional, mas foi originalmente concebida durante o regime militar pré-guerra no Japão, quando todas as instituições educacionais foram mobilizadas para criar pessoas obedientes ao Império. Era contra esse processo que Makiguti protestava, afirmando que o verdadeiro objetivo da educação devia ser o eterno bem-estar das crianças, e criticava o Édito Imperial sobre a Educação, declarando que este não proporcionava nada mais que um “conjunto mínimo de padrões morais”.

Em outras palavras, ele foi uma pessoa muito sagaz que, durante um período de militarismo fanático, manteve-se firme em sua crença de que a sociedade deve servir às necessidades autênticas da educação humanística e que a educação jamais deve ser sacrificada por causa de objetivos nacionalistas.

No entanto, não se deve confundir felicidade com mero prazer. Confundir o prazer momentâneo com uma vida de verdadeira satisfação e felicidade exemplifica o desvio dos valores que, na minha opinião, constituem a raiz das distorções ocorridas na sociedade japonesa do pós-guerra. Essa atitude equivocada resulta na liberdade sucumbindo para a indulgência e o egoísmo, a paz sucumbindo para a covardia e a indolência, os direitos humanos para a complacência e a democracia, para a oclocracia.

Conseqüentemente, cessa o desenvolvimento da personalidade, e temos então indivíduos arrogantes e imaturos, incapazes de abandonar suas atitudes infantis e que nunca ouvem os outros, assim como descritos por José Ortega y Gasset.9

A experiência de uma vida verdadeiramente humana — a felicidade genuína — somente pode ser realizada nas relações e interações entre as pessoas. Nisso se encontra a essência da perspectiva budista sobre a vida humana e a elicidade. A inimizade, a contradição e a discórdia parecem ser aspectos inevitáveis dos relacionamentos entre os seres humanos e entre estes com a natureza e o universo. Mas é com o processo de perseverar apesar disso e de transformar esses conflitos, restabelecendo e rejuvenescendo as relações entre nós, que podemos forjar e polir nossa individualidade e nosso caráter.

Se essas relações forem rompidas, o espírito humano ficará apenas vagando sem objetivo nenhum pela pesada escuridão da solidão. Na Psicologia, isso poderia ser chamado de um “distúrbio da comunicação”, uma patologia da sociedade moderna ocasionada pelo enfraquecimento das relações entre as pessoas.

O comportamento anti-social e o aumento dos crimes praticados por jovens são manifestações críticas dessa patologia social. Há um contínuo debate no Japão a respeito de criar emendas para a lei juvenil, mas o simples fato de mudar a lei não levará a uma solução para o problema. É responsabilidade dos adultos restabelecer com paciência a capacidade de se comunicar, ouvindo as vozes de crianças isoladas que, do meio da escuridão, estão pedindo ajuda.

Há um famoso episódio sobre Sócrates em que sua influência sobre os jovens é descrita como uma arraia elétrica, que aguilhoa quem a toca. Ele explica que pode eletrificar os outros porque ela própria está eletrificada. Da mesma forma, um professor deve ser sempre criativo se quiser despertar a criatividade em seus alunos. Essa é uma qualidade essencial em um educador.

O mais importante é a atitude dos próprios professores. A chave de tudo é a interação humana.


Restabelecendo as relações humanas

A coexistência criativa é claramente um dos conceitos-chave para o século XXI. Também já me referi a isso alguns anos atrás em uma proposta intitulada “Uma Renascença de Esperança e Humanidade”.10

Também é vital a comunicação entre os seres humanos e o ambiente natural. Em relação a isso, Makiguti foi um homem de penetrante visão. Na abertura de seu livro Geografia da Vida Humana,11 ele salienta a importância da influência do ambiente natural no desenvolvimento da personalidade citando uma obra do famoso educador e reformista Yoshida Shoin (1830–1859): “As pessoas não se desenvolvem isoladas de seu ambiente, e as questões humanas são simplesmente um reflexo das pessoas.

Portanto, para compreender as questões humanas, é preciso primeiro entender o contexto local em que as pessoas se desenvolveram.” Makiguti continua dizendo que somente é possível fomentar as qualidades da benevolência, da boa vontade, da amizade, gentileza, sinceridade e honestidade, e cultivar a nobreza do coração, na comunidade local.

A obra Geografia da Vida Humana foi lançada em 1903, mais de meio século antes de as questões ambientais como a escassez dos recursos naturais e a energia e poluição da atmosfera e da água terem forçado a humanidade a reconsiderar nosso relacionamento com a natureza. Mesmo naquela época, Makiguti havia percebido com perspicácia que o colapso da comunicação com a natureza causa não apenas prejuízos físicos mas também resulta na destruição de virtudes tais como a benevolência, essenciais ao desenvolvimento da personalidade.

O século XX foi um século em que os seres humanos destruíram violentamente o ambiente global, como invasores vorazes. Manter a comunicação e o contato com a natureza é, portanto, algo absolutamente indispensável na educação de nossas crianças e dos jovens que assumirão a responsabilidade pelo século XXI. Assim como na comunicação entre os seres humanos, devemos aumentar as oportunidades de interagir diretamente com a natureza em vez da realidade do mundo virtual. O que a realidade virtual tem a oferecer em comparação com a sensação da real comunicação da vida com a natureza — respirar o mesmo ar e aquecer-se à mesma luz do sol que a terra, as árvores, a grama e os animais — a dinâmica amplitude da vida?

Recordo-me de uma passagem de um artigo de Nobukiyo Takahashi, autoridade na pesquisa florestal.

A beleza da floresta ao anoitecer, especialmente quando é lua cheia, contrasta nitidamente o limite entre o céu e os cumes das montanhas, como se fossem imagens gravadas em um bloco de madeira. É um mundo em preto e branco. É um mundo saboreado somente por aqueles que o experimentam. Captadas em foto ou em vídeo, pode-se até certo ponto discernir essas imagens, mas nunca senti-las da mesma forma. Pois quando se está ali, não se tem contato apenas com os olhos: sua pele sente a temperatura e a umidade; pode-se sentir os aromas da floresta ao anoitecer; sons indefinidos passam rapidamente pelo seu ouvido. Saia caminhando pela floresta à noite, pegue uma folha e examine-a dos dois lados. Quanta beleza pode-se descobrir!¹²

Para construirmos uma sociedade que sirva às necessidades fundamentais da educação no século XXI, não devemos nos isolar nem nos dividir. Ao contrário, devemos aprofundar as relações humanas que transcendam as diferenças de raça e nacionalidade e também permanecer em plena e livre comunicação com a natureza. Devemos dar máxima prioridade ao cultivo da força de caráter e de valores nos jovens de tal forma que lhes dêem condições de assumir a liderança na construção de um mundo de coexistência criativa.

Notas 1. Daisaku Ikeda, Buddhism in Action. Tóquio, NSIC, 1985, vol. 2, pág. 328. 2. Chuo Koron, edição de setembro de 1999. 3. 1868–1912. Considerado como o início do moderno período japonês. 4. Kyoiku Kihon Ho. Promulgado em 31 de março de 1947. 5. Kyoiku Tyokugo. Proclamado pelo imperador Meiji em 30 de outubro de 1890, permaneceu em vigor até o fim da Segunda Guerra Mundial. 6. Glorificando os valores da lealdade e da piedade filial, o Édito Imperial sobre Educação foi usado como um princípio absoluto de educação e serviu como um poderoso instrumento de doutrinação ideológica. 7. Centro de Pesquisas de Boston para o Século XXI, . 8. Cúpula Okinawa-Kyushu, .. 9. José Ortega y Gasset, The Revolt of the Masses. Nova York, W.W. Norton & Company, Inc., 1932. 10. Daisaku Ikeda, Kibo to Kyosei no Renaissance wo, Proposta de Paz, 26 de janeiro de 1992. 11. Tsunessaburo Makiguti, Jinsei Chirigaku, The Complete Works of Tsunesaburo Makiguchi. 1903, reimpressão, Tóquio, Daisanbunmei-sha, 1987, vols. 1 e 2. 12. Nobukiyo Takahashi, Mori ni asobu: Dorogame-san no sekai. Tóquio, Asahi Shimbunsha, 1992.

O revivescer da educação: O resplandecer do espírito

Em setembro de 2000, Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI) e fundador do sistema educacional Soka, apresentou uma proposta intitulada “Construindo uma sociedade que sirva às necessidades fundamentais da educação — Algumas considerações sobre a educação no século XXI”. A presente proposta fundamenta-se nas sugestões anteriores para resolver os problemas de maus tratos e de outros comportamentos violentos nas escolas. Em exame, estão as medidas adicionais para restaurar a função educacional das escolas e da sociedade.

Ressaltando a apatia e o cinismo comuns subjacentes à atual crise do ensino, o autor discute a necessidade de um ethos social que não tolere nenhuma forma de violência. Examinando as diferenças entre “eu” e ego, ele expõe os perigos inerentes em uma mentalidade destituída de uma consciência do “outro”. Há portanto a necessidade vital de uma educação que crie empatia universal com os outros.

O autor adverte que a solução para a atual crise na educação não se encontra em uma regressão ao passado, mas na evolução para uma educação estruturada em valores que estimulem e que façam o potencial natural das crianças se manifestar. Opondo-se firmemente a reviver a política da educação religiosa do Japão durante a Segunda Guerra Mundial, ele propõe uma educação humanística que possibilite aos seres humanos conduzirem uma vida mais significativa e plena. Como um exemplo prático, ele propõe que as oportunidades de contato com as grandes obras literárias sejam aumentadas, tornando portanto a formação do caráter por meio da leitura, a base da educação.

Apesar de alguns serviços de orientação serem oferecidos pelas escolas e pelo governo, o estabelecimento de fóruns adicionais nos quais as pessoas engajadas direta ou indiretamente no processo educacional possam buscar orientação é uma necessidade fundamental. O autor sugere que os esforços centralizados nas comunidades, como o Programa de Orientação Educacional iniciado pela Divisão de Educadores da Soka Gakkai, pode ajudar a aliviar a sensação de isolamento que crianças com problemas ou seus pais sentem.


Enfim, o século XXI!

Com o desejo de que este novo século torne-se o “Século da Educação”, em setembro de 2000, apresentei uma proposta. Dois eram os objetivos: alertar o Japão, que persiste em tratar a educação como um simples meio para um fim, e chamar a atenção para uma mudança no modo de ver a educação como um processo que serve às necessidades estritamente definidas da sociedade para um novo paradigma que considera a sociedade como um processo que serve à educação por toda a vida.

É fundamental, creio eu, que a educação seja reorientada para seu objetivo primordial, principalmente à felicidade duradoura dos alunos. Nesta proposta, gostaria de tratar mais profundamente os problemas da educação aos quais as escolas e a sociedade devem estar alertas se quiserem encontrar uma solução para os maus tratos e outros atos de violência que mais diretamente afetam as crianças.

Há algum tempo, os casos de maus tratos e outras formas de violência física e psicológica têm aumentado no Japão, apesar de a imagem das escolas ser o de um reduto da alegria de aprender e de viver. Um levantamento feito em 1999 pelo Ministério da Educação em escolas públicas, do ensino fundamental ao ensino médio, registraram 36 mil casos de comportamento violento, o índice mais elevado até os dias de hoje. E embora os números apresentem uma tendência para uma leve queda, houve bem mais de trinta mil casos de agressões físicas e psicológicas registradas.

Isso revela uma situação deplorável. Como os números não mostram quantos casos não foram registrados, sem mencionar os muitos incidentes que ocorrem nas escolas particulares, alguns observadores afirmam que esses valores representam apenas a ponta do iceberg.

Deixando os números de lado, a questão fundamental é que essas condições aberrantes se tornaram norma. As crianças são o microcosmo das eras e, sendo assim, espelham o futuro da sociedade. Enquanto esse espelho estiver turvo e escuro, não conseguiremos enxergar um futuro de esperança nele.

Embora algumas medidas reparadoras tenham sido instituídas pelo Ministério da Educação e comissões independentes, acredito que além de meios estruturais para impedir as agressões, há uma necessidade urgente de estabelecer não somente nas escolas mas em toda a sociedade um ethos de tolerância zero em relação à violência.


Um desejo ardente de acabar com a violência

Tsunessaburo Makiguti (1871–1944), educador japonês e primeiro presidente da Soka Gakkai, lamentava a difícil situação das crianças de seus dias cuja educação e a própria vida ostentavam o símbolo da marcha para a expansão imperial. Ele foi uma pessoa que nutria o profundo desejo de solucionar os problemas subjacentes que causavam intenso sofrimento a toda uma geração de dez milhões de crianças e estudantes expostos à pressão de uma sociedade em caos. Estava determinado que o fardo desses problemas não seria passado para a geração seguinte (5:8). Dessa promessa nasceu sua principal obra sobre educação, Soka Kyoikugaku Taikei (Sistema Pedagógico de Criação de Valor), publicada há mais de setenta anos, em 1930. No centro do conceito de educação Soka (criação de valor), está o princípio de que todas as crianças devem ter a oportunidade de desenvolver ilimitadamente seu potencial e viver de forma plena, livre das influências destrutivas na sociedade. Esse princípio continua sendo a força motriz das escolas Soka nos dias de hoje.

Devemos acabar com a tragédia da violência nas escolas, caso contrário, as ricas sementes de esperança e potencialidade do futuro serão destruídas pelas próprias crianças. Todas as vezes que visito as escolas Soka de Tóquio e de Kansai, digo abertamente aos estudantes que os maus tratos e a violência sempre são um erro e os encorajo a se empenharem juntos para acabar com os males da sociedade.

Naturalmente, meu apelo aos estudantes não é nenhuma novidade. Para a grande maioria da população adulta, há um senso comum de que a rejeição à violência é a base de uma sociedade civilizada. Infelizmente, como observamos ultimamente, não podemos mais afirmar que essa seja a norma de conduta social. Apesar de os casos registrados de violência nas escolas e de outros crimes juvenis, bem como de má conduta, não tenham aumentado drasticamente em anos recentes, o problema não é definido simplesmente pela freqüência de sua ocorrência. Seria mais recomendável examinarmos atentamente a natureza específica do problema. Se não encararmos seriamente essa realidade, qualquer apelo para acabar com a violência falhará em atingir o coração da criança, e em vez disso, soará como frases vazias.

Precisamos, em primeiro lugar, de coragem se quisermos acabar com a violência nas escolas — o tipo de coragem que não nos deixe sucumbir nem permanecer como meros espectadores em face do mal. Quando reunirmos esse tipo de coragem, os maus tratos como também outros tipos de violência, inevitavelmente serão rejeitados. A questão é se somos ou não capazes de reunir essa coragem. Sobre a questão dos maus tratos, no ano passado, o Seikyo Shimbun publicou uma série de diálogos que realizei com vários jovens que estão regularmente em contato com estudantes do ensino médio. A partir dessas conversas, pude constatar o quanto é difícil, para os pais e professores como também para os estudantes, serem pessoas realmente corajosas.


Aversão ao bem, aversão ao mal

A filósofa e escritora religiosa Simone Weil (1909–1943) observou com perspicácia que para os escritores de seus dias “as palavras que contêm uma referência ao bem e ao mal” passaram a ser “rejeitadas, especialmente, as que se referem ao bem” (288). É cada vez mais comum observarmos em nossos dias, quando as palavras relacionadas ao bem — não só coragem mas também esforço, paciência, amor e esperança — são referidas com cinismo e indiferença. O ambiente social em que vivemos é o de pessoas que, talvez receosas em serem julgadas pelos outros, hesitam até mesmo em pronunciar essas palavras. A menos que confrontemos o cinismo e a indiferença, seremos incapazes de apresentar soluções fundamentais e efetivas.

Essa subcorrente de mal-estar social e espiritual tem se propagado rapidamente em anos recentes. A pergunta “Por que é errado matar pessoas?” foi feita recentemente em um famoso programa de televisão japonesa. Ela então tornou-se título de um artigo em série de uma revista, que mais tarde foi publicada em livro (Nagai). Esse fenômeno nos oferece uma indicação de onde o problema reside: Mesmo quando os princípios consagrados pelo tempo e as virtudes estabelecidas pelas principais religiões mundiais, como proibições contra tirar a vida de um ser humano, são discutidas, pode-se facilmente imaginar a atitude prevalecente em relação ao comportamento coercivo e violento como os maus tratos. Acredito que devemos atentar para o fato de que o cinismo e a indiferença que corroem a sociedade na base são potencialmente mais perigosos do que qualquer ato de maldade individual.

Duas personalidades com quem publiquei uma série de diálogos, o famoso escritor russo de literatura infantil Albert A. Likhanov e Norman Cousins, conhecido como a “consciência da América”, compartilharam esse pensamento comigo. Eles alertaram rigorosamente para o perigo da indiferença e do cinismo diante do mal — muito mais do que o próprio mal — porque essas atitudes revelam uma total falta de apego à vida, um isolamento e fuga da realidade.

Citando as palavras paradoxais de Bruno Jasienski, Likhanov alerta sobre o profundo mal que a apatia inflige na alma de um jovem: Não tema os inimigos. O pior que eles podem fazer é matá-lo.

Não tema os amigos. O pior que eles podem fazer é traí-lo. Deve temer os que são indiferentes. Eles não matam nem traem, mas a traição e a matança ocorrem por consentirem calados. (Wakamonotati, 161)

Em outras palavras, nossa atitude de desviar o olhar da matança ou da traição é que permite que o mal prolifere sem fim. Similarmente, Cousins faz referência à seguinte declaração de Robert Louis Stevenson:

Abomino muito mais o cinismo do que o diabo, a não ser que sejam a mesma coisa. (48–49)

Ele expressa sua profunda preocupação de que o derrotismo e indecisão característicos de uma atitude pessimista venham a enfraquecer e destruir valores como o idealismo, a esperança e a confiança.

Um estado de vida controlado pela apatia e pelo cinismo torna-se imune a sentimentos de amor ou ódio, sofrimento ou alegria e retrai-se num mundo árido, alienado e de artifícios. A indiferença em relação ao mal implica em uma indiferença em relação ao bem. É constituída por um estado de vida desolador e um universo semântico distante do drama da vida da luta entre bem e mal.

As crianças com sua aguçada sensibilidade detectam rapidamente a apatia e o cinismo excessivos do mundo dos adultos despojado de valores. Talvez seja por essa razão que os adultos ficam apreensivos quando vêem no coração das crianças uma escuridão lúgubre e familiar.

O mal, da mesma forma que o bem, é uma realidade inegável. Sem o mal, não há o bem, e sem o bem, não há o mal: eles coexistem e são definidos por sua complementaridade. Dependendo da resposta ou da reação da pessoa, o mal pode ser transformado em bem ou o bem em mal. Nesse sentido, ambos são relativos e transmutáveis. Devemos, portanto, reconhecer que o bem e o mal são definidos em relação ao seu oposto ou o “outro”, e que o “eu” é definido por essa dinâmica.


O “eu” na ausência do “outro”

No budismo temos o conceito de “inseparabilidade do bem e do mal” (zen’aku funi) e “a neutralidade fundamental da vida em relação ao bem e ao mal” (zen’aku muki)[Nitiren, Escritos]. Exemplificando, para o Buda histórico Sakyamuni (que representa o bem) atingir a iluminação e, portanto, cumprir o propósito de sua vida neste mundo, tinha de existir uma oposição, o “outro” ou o mal, nesse caso, seu primo Devadatta que objetivava prejudicá-lo e então, destruí-lo. Em contraste, a incapacidade de reconhecer e conciliar com a existência do “outro” oposto é a falha fundamental de uma visão cínica e apática da vida, em que só o “eu” isolado existe.

Um sentido mais exato e satisfatório do “eu” é encontrado na totalidade da psique, que está inextrincavelmente ligada ao “outro”. Carl Jung (1875–1961) distinguia entre “ego”, que se refere somente ao aspecto externo da psique, e o “eu”, que está relacionado ao interior e unifica o consciente e o inconsciente. No mundo da apatia e do cinismo encontramos somente uma percepção isolada do “eu” vagando pela superfície da consciência — que Jung se refere como “ego”.

O “eu” que não se identifica com o “outro” é insensível à dor, à angústia e ao sofrimento do “outro”. Isso tende a confiná-lo em seu próprio mundo, ou a sentir-se ameaçado ante a menor provocação e a reagir de modo violento, insensível e indiferente.

Eu ousaria dizer que essa mentalidade provê o solo para as ideologias fanáticas, como o fascismo e o bolchevismo que se estenderam por todo o século XX. Mais recentemente testemunhamos o surgimento da realidade virtual que também pode, creio eu, obscurecer ainda mais o “outro”. Visto sob essa luz, fica claro que nenhum de nós deve permanecer como mero espectador ou ver o comportamento problemático das crianças como responsabilidade de outras pessoas.

No curso de nosso diálogo, o estudioso sobre questões de paz Johan Galtung, mencionou que o pré-requisito para um “diálogo exterior” é um “diálogo interior” (64). Se o conceito do “outro” inexiste no “eu”, o verdadeiro diálogo não pode ocorrer.

Intercâmbios entre dois indivíduos que carecem da percepção do “outro” podem parecer diálogos, mas na realidade são simplesmente uma troca de declarações unilaterais. A comunicação inevitavelmente falha. O pior nesse tipo de espaço semântico — muitas vezes volúvel e vazio — é que as palavras perdem sua ressonância e são conseqüentemente extintas. A morte das palavras naturalmente significa a morte de um aspecto fundamental de nossa humanidade — a capacidade da fala que nos torna merecedores do nome Homo loquens. A realidade somente pode ser revelada por um genuíno diálogo em que o “eu” e o “outro” transcendem os limites do ego e se interagem totalmente. Essa percepção inclusiva da realidade expressa a espiritualidade humana transbordante de vitalidade e empatia.

No discurso que proferi na Universidade de Harvard em 1991, disse que a época requer um ethos de soft power. Declarei que uma espiritualidade interiormente motivada constitui a essência do soft power, que deriva de um processo dirigido para o interior do ser humano. Isso se torna manifesto quando a alma trava uma luta, passando por fases de sofrimento, conflito, ambivalência, reflexão amadurecida e, finalmente, decisão.

É somente nessa fornalha de intensos intercâmbios — o processo de apoio mútuo e incessante de diálogo interno e externo entre o “eu” e o “outro” profundamente interiorizado — que nosso ser é fortalecido e aprimorado — o podemos começar a compreender e confirmar a realidade de estarmos vivos. Somente então podemos evidenciar o brilho de uma espiritualidade universal que abarca toda a humanidade.


O domínio interior da alma e o sentimento religioso

Acredito que a herança espiritual da humanidade pode ser encontrada nas grandes obras literárias, consideradas a representação quintessencial do “eu” interior. Nesse sentido, gostaria de recorrer às Recordações da Casa dos Mortos, uma obra que marcou um momento decisivo na carreira de Dostoiévski como escritor.

O jovem Dostoiévski havia sido sentenciado, por defender ideais revolucionários, a quatro anos de trabalho forçado no frio extremo da Sibéria. Recordações da Casa dos Mortos é um registro inigualável das virtudes comuns da humanidade a ele reveladas por essa terrível provação.

Um homem do povo... nunca censura um criminoso com o crime que ele cometeu, não importa qual seja. Ele o perdoa por causa da sentença que cumpre. É por essa razão que o povo russo chama ao crime uma “infelicidade” e ao criminoso um “infeliz”. Essa definição é expressiva e profunda, embora inconsciente e instintiva. (55–56)

Um “infeliz” — uma escolha de palavra incomum, porém, rica em significado. Talvez isso mostre uma visão um tanto romântica de Dostoiévski do povo russo. Seja como for, acredito no discernimento de um grande escritor que vai além dos conceitos superficiais ao falar do domínio interior da alma.

Chamar um crime de “infelicidade” e um criminoso de “infeliz” revela uma percepção abrangente e inclusiva do “outro”. Nenhuma distinção é feita entre a própria pessoa e o criminoso; a expressão sobeja de uma relação de empatia.

Quando em meio às adversidades a empatia continua elevada, um saudável fluxo de comunicação prevalece. Por outro lado, a falta de consciência da conexão entre as pessoas indica o colapso da comunicação em uma sociedade. Incapazes de se comunicar, de reconhecer a dignidade da vida de uma pessoa, os seres humanos acabam numa controvérsia sem fim e incapazes de responder diretamente a questão: “Por que é errado matar?”

A arrogância, a raiz de todo o mal ideológico, faz pressupor que o indivíduo é bom e o “outro”, mau. Em contraste, o tipo de atitude descrito por Dostoiévski possibilita à pessoa perceber que uma outra compelida pelas circunstâncias ao mal pode ser também inspirada ao bem. Desse pensamento emana o expansivo “impulso de benevolência interior” (7) que Rousseau considerava como a base primordial da sociedade.

Essa benevolência natural ressoa perfeitamente com o que o Budismo Mahayana chama de caminho do Bodhisattva, o epítome que pode ser encontrado nas palavras do Bodhisattva Vimalakirti — “Pelo fato de todos os seres vivos adoecerem, eu adoeço” (65) — e no exemplo de Jesus de Nazaré que concentrava mais amor e compaixão a uma “ovelha desgarrada” do que a todo o rebanho. O tema comum nas últimas obras de Dostoiévski é a teodicéia, a doutrina da justiça divina na criação de um mundo em que ambos, bem e mal, coexistem. No cerne do pensamento de Rousseau sobre a educação está um sentimento religioso independente e livre dos dogmas e do autoritarismo eclesiáticos. Nota-se que na essência de sentimentos universais de empatia e espiritualidade, floresce alguma forma de sentimento religioso que é inerente nos seres humanos.

No século XX, um século de guerras e violência, constatamos também o brilho da luz da espiritualidade emanando das lutas de não-violência de Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr. Alguns podem indagar como suas lutas se transformaram em movimentos de massa e por que muitas pessoas ainda hoje adotam a não-violência. Assim como Gandhi, que declarou que a religião “oferece uma base moral para todas as outras atividades de que eles carecem” (63), acredito que a resposta está no que há por trás das palavras e ações desses líderes. Ambos tinham como base uma forte convicção religiosa, que os possibilitava permanecer inabaláveis ante quaisquer adversidades.


Ausência de Valores

O psicólogo norte-americano Abraham H. Maslow apresentou um importante conceito da educação da perspectiva da espiritualidade. De acordo com Maslow, o propósito fundamental da educação é “ajudar [o estudante] a ser o melhor possível, a tornar-se realmente aquilo que é potencialmente capaz” (49). Sua visão identifica-se com a de Makiguti, que colocava a felicidade dos alunos como centro do processo educacional.

Maslow insistia em dizer que nunca devemos desviar nossos olhos do “objetivo principal” e dos “valores fundamentais” da educação para que não percamos de vista o “potencial máximo” que os seres humanos podem atingir e acabemos confundindo nossas prioridades (50–52). O Japão, com sua atual crise educacional, deve achar sua advertência incômoda. Afinal, trata-se de uma crise que se arrasta por décadas de políticas educacionais moldadas pelas necessidades imediatas percebidas, sejam econômicas sejam militares.

Em minha opinião, os valores duradouros de Maslow aproximam-se dos aspectos filosóficos, religiosos e éticos e se equiparam ao cultivo da espiritualidade e do sentimento religioso.

Em novembro de 2000, tive a oportunidade de me encontrar com Victor Kazanjian, decano da cadeira de Vida Espiritual e Religiosa da Faculdade Wellesley, Estados Unidos, e um dos co-fundadores do projeto “Educar para Mudar”. Com aproximadamente 350 faculdades e universidades participantes de todos os Estados Unidos, o projeto visa à reforma do atual sistema educacional em que a relação entre indivíduos e entre os indivíduos e a sociedade está desgastada. O projeto visa ainda à inclusão da integridade e espiritualidade na educação.

O decano Kazanjian observou a crescente dissociação entre os valores espirituais e o aprimoramento intelectual, além da crescente tendência de ver a educação como um simples meio ou instrumento. Conseqüentemente, ele expressou suas elevadas esperanças em relação à educação humanística da Universidade Soka da América, que visa a formar indivíduos íntegros. Na realidade, esse objetivo é a essência e a ética condutora da educação Soka diligentemente desenvolvida desde os tempos de Makiguti.

A desordem na educação e a conseqüente escuridão que envolve a vida das crianças indica uma queda da capacidade de educar por parte da sociedade como um todo e de seus elementos constituintes — não só as instituições com responsabilidade formal para com as questões educacionais e religiosas mas também a família e a comunidade.

Nós não podemos continuar tratando somente dos sintomas desse mal. Não sou o único que acredita que atingimos um ponto em que devemos optar por uma estratégia abrangente. Maslow apresenta com perspicácia a questão: uma “educação sem valores” é de todo desejável? Talvez seja o momento de escolher uma resposta que ressoe com a espiritualidade e a fé nas profundezas do coração humano.

Educação humanística para criar valor e ser feliz

A maior busca da vida de Makiguti foi o estabelecimento de uma educação humanística em que seu objetivo seria essencialmente a felicidade das pessoas. Diante de um contexto sociocultural extremamente rígido, no Japão imerso num regime militar, suas idéias eram revolucionárias, pois questionaram as bases do sistema educacional vigente — e, em muitos casos, persistente no Japão e outros países ainda hoje.

Em resumo, pode-se dizer que Makiguti acreditava que os problemas da educação japonesa estariam focados em seis questões fundamentais:

1) o erro no estabelecimento do objetivo da educação;

2) o fato de não ter a felicidade como propósito final;

3) a incompreensão sobre o potencial criativo inerente ao ser humano;

4) o sistema educacional incorreto, focando na transferência de conhecimentos;

5) a falta de uma ciência sobre a educação;

6) e a ausência de uma parceria entre a escola, o lar e a comunidade no processo educativo.

Todas essas questões estão interligadas e têm como base fundamental a teoria da criação de valor exposta em sua obra Teoria do Sistema Educacional de Criação de Valores.

A teoria da criação de valor surgiu, então, de análises empíricas do professor Makiguti sobre o sistema educacional japonês. Partindo do pressuposto de que o objetivo fundamental da educação é a felicidade — a aspiração universal dos seres humanos —, e que, por isso, as práticas educacionais devem estar embasadas nas necessidades da vida diária e, portanto, não devem ficar a cargo do julgamento arbitrário de teóricos, Makiguti desenvolveu um amplo estudo sobre o modo de viver das pessoas.

Esses estudos originaram uma compreensão holística do que é a felicidade: não apenas satisfazer as necessidades básicas e de segurança individual (egocentrismo), mas assumir o comprometimento total com a vida da sociedade. Este conceito abrange, portanto, “tudo” que constitui felicidade. O indivíduo que opta por um único caminho nessa busca pela felicidade, concentrando seus esforços ou no acúmulo de riqueza, ou na busca de uma posição social elevada, por exemplo, não alcançaria a felicidade plena. Assim, conforme Makiguti, a educação deve levar o indivíduo a reconhecer seu compromisso com a sociedade e, com isso, criar a verdadeira felicidade em sua vida.

Aquilo que o indivíduo considera felicidade corresponde a seus valores. Num primeiro momento, a felicidade parece se restringir à auto-satisfação. Mas, com a criação de valores, esse conceito de felicidade ganha amplitude e dimensão social. Para Makiguti, o objetivo legítimo da educação é a criação de valor, é ajudar o ser humano a aprender a viver como criador de valor. E esta seria, na verdade, a própria essência do ser humano.

O professor acreditava que a criatividade seria expressa pelo homem desde que esse potencial não fosse reprimido ou destruído. A educação teria o papel de incentivar esse potencial e, com isso, conduzir o homem a utilizar sua criatividade para melhorar a própria vida e beneficiar a comunidade. Makiguti questionava o sistema educacional japonês que focava o treinamento para adiar a felicidade, colocando este fim como algo para o futuro. Ele escreveu: “Não é prerrogativa dos educadores decidir que a preparação para a vida adulta deve ser o objetivo da educação. (...) [Eles] devem entender que a escolarização que sacrifica a felicidade presente das crianças, fazendo da felicidade futura sua meta, viola a personalidade infantil e o próprio processo de aprendizagem.”1 Estaria na natureza humana a criação de valores para ser feliz no presente, concretizando ações de acordo com o estágio de vida do indivíduo.

Segundo o professor David Norton,2 Makiguti acreditava que a cada estágio equivaleria um tipo peculiar de realização e de felicidade, e os valores, virtudes e obrigações intrínsecos a cada estágio devem ser preenchidos na infância, e não adiados para a idade adulta.

Nesse contexto, os professores teriam o papel de orientadores no processo de aprendizagem dos indivíduos. A responsabilidade pela busca de informações seria dos estudantes junto aos livros, incentivando os esforços de autoconhecimento e provocando o interesse e a curiosidade natural. Os educadores também precisariam desenvolver uma ciência sobre a educação, buscando princípios universais do processo de aprendizagem, avaliando experiências e opiniões convergentes e divergentes sobre o sistema educacional com o uso da metodologia científica.

Além disso, Makiguti defendeu que existem papéis e responsabilidades específicos à escola, ao lar e à comunidade na educação. Seriam atributos intransferíveis e complementares. Para o educador, “o estudo não deve ser visto como preparação para a vida; ao contrário, ele deve acontecer enquanto se vive, e o viver acontece em meio ao estudo. Estudo e vida real precisam ser considerados mais do que paralelos; pois devem trocar informações entre si e as interpenetrar de acordo com cada contexto, o estudo na vida e a vida no estudo, por toda a existência do indivíduo”.3

De acordo com Dayle Bethel,“o conceito de aprendizagem proposto por Makiguti alterou radicalmente a concepção tradicional. No seu modelo, o aluno é o centro do processo de aprendizagem, e não a escola. O currículo básico é organizado de acordo com a natureza do indivíduo e a estrutura social (local, nacional, regional e global). O educador é um orientador, cuja função principal é encorajar e motivar o aluno na busca de objetivos de aprendizagem e na autodeterminação de conhecimentos, bem como auxiliá-lo na remoção de obstáculos que possam retardar ou impedir o processo de aprendizagem.” Bethel conta que esses princípios contrastaram radicalmente com as políticas e práticas educacionais do Japão, e que se as propostas de Makiguti fossem adotadas, a natureza da educação e da sociedade japonesa teria passado por mudanças profundas.

História da Educação no Brasil

Para refletirmos juntos, o que poderíamos fazer para revolucionar nossa educação?

1549 – Os primeiros jesuítas chegam ao Brasil, comandados por Padre Manoel da Nóbrega.

1553 – O Padre José de Anchieta chega ao país para ensinar latim aos índios.

1570 – A obra jesuíta estende-se para o sul brasileiro.


1575 – No colégio da Bahia, já se colava grau de Bacharel em Artes.

1699 – Fundação da Escola de Artes e Edificações Militares na Bahia.

Junho de 1759 – Os jesuítas são expulsos do país.

1808 – Chegada da Família Real ao Brasil.

1808 a 1821 – Criação de academias militares, escolas de Direito e Medicina.

1821 – D. João VI volta a Portugal.

1822 – D. Pedro I proclama a independência do Brasil.

1824 – 1ª Constituição Brasileira.

1826 – Instituído quatro graus de instrução: pedagogias, liceus, ginásios e academias.

1835 – Fundação da primeira Escola Normal do país no Rio de Janeiro.

1837 – Criação do Colégio Pedro II.

1872 – 150 mil é o número de alunos matriculados em escolas primárias.

1889 – O sistema educacional adota a filosofia positivista de Auguste Comte.

1890 – O Decreto 510 diz que “o ensino será leigo e livre em todos os graus e gratuito no primário”.

1922 – Movimento dos 18 do Forte, Semana da Arte Moderna e fundação do Partido Comunista do Brasil.

1930 – Criação do Ministério da Educação e Saúde Pública.

1931 – Decretos organizam o ensino secundário e as universidades.

25 de janeiro de 1934 – Armando de Salles Oliveira cria a Universidade de São Paulo (USP).

1935 – Anísio Teixeira cria a Universidade do Distrito Federal na cidade do Rio de Janeiro.

1937 a 1945 – Divisão dos cursos em primário, ginásio e colégio.

1946 – O então ministro Raul Leitão da Cunha cria o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).

1952 – Inauguração do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, em Salvador, Bahia.

1962 – Criado o Plano Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização.

1964 a 1985 – Período da ditadura militar no Brasil.

1971 – Criada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

1988 – Nova Constituição Brasileira destina recursos à educação. Inep afirma que apenas 32,21% dos alunos completam o 1º grau.

1989 – Apenas 4,6% do total dos gastos da União são destinados à educação.

1990 – Sob a coordenação do Inep, é implantado o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

1991 – Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais concentram 55% do total de estudantes universitários.

1993 – Mulheres com idade média de 33,6 anos constituem 83,3% do contingente de professores do 1º grau.

1995 – Estréia da TV Escola para promover a atualização dos professores.

1998 – Inep institui o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

2001 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cria o Programa Bolsa Escola.

2003 – O presidente Lula lança a Reforma Universitária em parceria com o Ministério da Educação (MEC).

2004 – Implantado o Sistema de Cotas nas Universidades, no qual 20% das vagas são destinadas aos negros.

2005 – Criação do Programa Universidade para Todos (Prouni).

Monday, August 16, 2010

Reformas fundamentais nas universidades [por Daisaku Ikeda]


Gostaria de discorrer a seguir a respeito do sistema de exames vestibulares, que é o principal problema a ser tratado na reforma educacional no Japão. Atualmente, enquanto a já excessiva pressão dos exames se intensifica, ocorre um outro problema sério: a tendência de transformar o ensino de nível médio em mera fase preparatória para o ingresso nas universidades. Agora que o tamanho das famílias está diminuindo e a pressão para o acesso ao ensino superior é menor, a sociedade japonesa tem uma boa oportunidade para rever esse método e renová-lo de forma que seja realmente benéfico tanto para os estudantes como para as universidades.

Algo que deve ser considerado primeiro é a diversificação do processo de admissão. Acredito ser necessário aperfeiçoar o atual sistema de vestibulares. É preciso que deixe de ser um exame seletivo de “peneiração” para tornar-se um teste de aptidão para o ingresso em uma universidade. Os exames para admissão universitária não deveriam limitar-se às provas escritas. Oportunidades mais amplas devem ser oferecidas mediante processos diversificados tais como admissão em áreas de aptidões e virtudes especiais; todos esses esforços devem respeitar e estimular o desejo dos candidatos de aprendizado.

O início do ano letivo universitário também deveria ser mudado de abril para setembro,8 para facilitar tanto a transição dos atuais estudantes e daqueles que estão retornando dos estudos no exterior como também para proporcionar tempo e várias oportunidades aos que acabaram de se formar no nível médio e estão para ingressar na universidade. Esse período poderia ser usado como uma oportunidade para adquirir experiência na sociedade, para ler extensivamente e ponderar cuidadosamente sobre a vida.

A esse respeito, gostaria de tratar da qualidade do ensino universitário. Existe, antes de mais nada, a necessidade de reconsiderarmos o ensino em termos de inclusão tanto de especialização como de educação ampla e aprofundada. Em uma sociedade em rápida mudança, as disciplinas acadêmicas tendem a se subdividir e a se especializar ainda mais, reduzindo o peso das matérias de Ciências Humanas no currículo universitário. Isso limitará a educação que um estudante pode receber. As Ciências Humanas nas universidades japonesas carecem atualmente de um objetivo ou princípio bem definido e, por essa razão, gostaria de clamar por uma reavaliação da forma como tratamos essa área fundamental. Ao mesmo tempo, devemos expandir a educação em campos especializados e assegurar a coordenação com os cursos oferecidos nas escolas de pós-graduação.


As contribuições da Universidade Soka

É vital definirmos a direção ideal para a educação humanística e criar uma nova corrente de educação para o século XXI. O campus da Universidade Soka da América em Aliso Viejo será inaugurado em 2001 como uma Faculdade de Ciências Humanas que oferecerá uma educação ampla e aprofundada e que também preparará os estudantes para buscarem outros cursos especializados de estudo, incluindo os de pós-graduação. Como seu fundador, estou comprometido com esse audacioso experimento e a plena implementação dos ideais da educação criadora de valores.

Em todas as áreas da educação universitária, mas em especial a de Ciências Humanas, precisamos acabar com as demarcações cerradas entre departamentos e adotar um método coordenado e interdisciplinar. Para esse fim, os professores devem estar impelidos a reformar totalmente seus métodos de ensino. Uma das razões de muitos estudantes não acharem as aulas atrativas é seu conteúdo ultrapassado que se repete ano após ano. Já me referi à deficiência do sistema de ensino nas escolas: esses problemas enfrentados pelas universidades tendem a ser negligenciados.

O relatório provisório do Conselho Universitário do Ministério da Educação enfatizou a necessidade de elevar a proficiência do ensino dos professores universitários. Estes devem empreender incessantes esforços para melhorar a qualidade das aulas e evitar a inércia e especialmente impedir que a qualidade da educação universitária seja prejudicada.

A Universidade Soka no Japão abriu este ano um Centro para Excelência de Ensino e Aprendizado. O Centro apoiará o corpo docente em vários projetos para desenvolver métodos de ensino inovadores e também oferecer assistência aos estudantes a fim de desenvolver neles a habilidade para solucionar dificuldades por si sós.

Na Universidade Soka da América, estudantes e professores participarão do Currículo Fundamental, uma série única de quatro cursos com enfoque em importantes questões com que nosso mundo se depara no século XXI:

O que é a vida humana?

Qual é a relação entre o indivíduo e o ambiente físico em que vivemos?

Qual é a relação entre o indivíduo e o ambiente humano em que vivemos?

Questões globais sobre a paz, a cultura e a educação.

Cada questão será tratada de várias perspectivas — histórica, multicultural, analítica e experimental — a fim de oferecer a base para o aprendizado contínuo.

Creio que também no Japão a educação na área de Ciências Humanas deve ser o elemento fundamental na primeira metade de cada grau do curso universitário, por oferecer uma compreensão ampla de humanidade. Para a segunda metade do curso, precisamos tornar a administração universitária mais flexível, isto é, introduzir um sistema duas vezes maior e estabelecer um sistema que permita compatibilizar créditos e transferências entre escolas para possibilitar aos estudantes mudarem para universidades em áreas acadêmicas especializadas.

Na hora de optar por uma universidade, os estudantes inclinam-se a priorizar aquelas que são mais fáceis de ingressar. Se essa situação persistir, jamais teremos resultados positivos para os estudantes nem para as universidades. A fim de evitar que isso ocorra, as universidades devem cooperar oferecendo aulas nas áreas que os estudantes realmente desejam seguir. Durante sua permanência na universidade, conforme o interesse dos alunos aumenta, eles tendem a querer mudar para cursos de uma área completamente diferente, o que implicará na mudança para uma outra universidade. O sistema atual, no entanto, não permite a transferência de créditos, desencorajando dessa forma esse processo.

Em reação a isso, universidades de algumas partes do Japão começaram a formar alianças possibilitando a transferência de créditos. Essas são reformas audaciosas e de grande importância que beneficiarão os estudantes. O ideal seria que os alunos pudessem estudar o que desejam, quando e onde quiserem. Para conseguirmos isso, precisamos conferir mobilidade, concentrando na disciplina e especialização acadêmica, não universitária. Isso fará parte do desenvolvimento de um sistema educacional vitalício.