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Tuesday, August 17, 2010

O revivescer da educação: O resplandecer do espírito

Em setembro de 2000, Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI) e fundador do sistema educacional Soka, apresentou uma proposta intitulada “Construindo uma sociedade que sirva às necessidades fundamentais da educação — Algumas considerações sobre a educação no século XXI”. A presente proposta fundamenta-se nas sugestões anteriores para resolver os problemas de maus tratos e de outros comportamentos violentos nas escolas. Em exame, estão as medidas adicionais para restaurar a função educacional das escolas e da sociedade.

Ressaltando a apatia e o cinismo comuns subjacentes à atual crise do ensino, o autor discute a necessidade de um ethos social que não tolere nenhuma forma de violência. Examinando as diferenças entre “eu” e ego, ele expõe os perigos inerentes em uma mentalidade destituída de uma consciência do “outro”. Há portanto a necessidade vital de uma educação que crie empatia universal com os outros.

O autor adverte que a solução para a atual crise na educação não se encontra em uma regressão ao passado, mas na evolução para uma educação estruturada em valores que estimulem e que façam o potencial natural das crianças se manifestar. Opondo-se firmemente a reviver a política da educação religiosa do Japão durante a Segunda Guerra Mundial, ele propõe uma educação humanística que possibilite aos seres humanos conduzirem uma vida mais significativa e plena. Como um exemplo prático, ele propõe que as oportunidades de contato com as grandes obras literárias sejam aumentadas, tornando portanto a formação do caráter por meio da leitura, a base da educação.

Apesar de alguns serviços de orientação serem oferecidos pelas escolas e pelo governo, o estabelecimento de fóruns adicionais nos quais as pessoas engajadas direta ou indiretamente no processo educacional possam buscar orientação é uma necessidade fundamental. O autor sugere que os esforços centralizados nas comunidades, como o Programa de Orientação Educacional iniciado pela Divisão de Educadores da Soka Gakkai, pode ajudar a aliviar a sensação de isolamento que crianças com problemas ou seus pais sentem.


Enfim, o século XXI!

Com o desejo de que este novo século torne-se o “Século da Educação”, em setembro de 2000, apresentei uma proposta. Dois eram os objetivos: alertar o Japão, que persiste em tratar a educação como um simples meio para um fim, e chamar a atenção para uma mudança no modo de ver a educação como um processo que serve às necessidades estritamente definidas da sociedade para um novo paradigma que considera a sociedade como um processo que serve à educação por toda a vida.

É fundamental, creio eu, que a educação seja reorientada para seu objetivo primordial, principalmente à felicidade duradoura dos alunos. Nesta proposta, gostaria de tratar mais profundamente os problemas da educação aos quais as escolas e a sociedade devem estar alertas se quiserem encontrar uma solução para os maus tratos e outros atos de violência que mais diretamente afetam as crianças.

Há algum tempo, os casos de maus tratos e outras formas de violência física e psicológica têm aumentado no Japão, apesar de a imagem das escolas ser o de um reduto da alegria de aprender e de viver. Um levantamento feito em 1999 pelo Ministério da Educação em escolas públicas, do ensino fundamental ao ensino médio, registraram 36 mil casos de comportamento violento, o índice mais elevado até os dias de hoje. E embora os números apresentem uma tendência para uma leve queda, houve bem mais de trinta mil casos de agressões físicas e psicológicas registradas.

Isso revela uma situação deplorável. Como os números não mostram quantos casos não foram registrados, sem mencionar os muitos incidentes que ocorrem nas escolas particulares, alguns observadores afirmam que esses valores representam apenas a ponta do iceberg.

Deixando os números de lado, a questão fundamental é que essas condições aberrantes se tornaram norma. As crianças são o microcosmo das eras e, sendo assim, espelham o futuro da sociedade. Enquanto esse espelho estiver turvo e escuro, não conseguiremos enxergar um futuro de esperança nele.

Embora algumas medidas reparadoras tenham sido instituídas pelo Ministério da Educação e comissões independentes, acredito que além de meios estruturais para impedir as agressões, há uma necessidade urgente de estabelecer não somente nas escolas mas em toda a sociedade um ethos de tolerância zero em relação à violência.


Um desejo ardente de acabar com a violência

Tsunessaburo Makiguti (1871–1944), educador japonês e primeiro presidente da Soka Gakkai, lamentava a difícil situação das crianças de seus dias cuja educação e a própria vida ostentavam o símbolo da marcha para a expansão imperial. Ele foi uma pessoa que nutria o profundo desejo de solucionar os problemas subjacentes que causavam intenso sofrimento a toda uma geração de dez milhões de crianças e estudantes expostos à pressão de uma sociedade em caos. Estava determinado que o fardo desses problemas não seria passado para a geração seguinte (5:8). Dessa promessa nasceu sua principal obra sobre educação, Soka Kyoikugaku Taikei (Sistema Pedagógico de Criação de Valor), publicada há mais de setenta anos, em 1930. No centro do conceito de educação Soka (criação de valor), está o princípio de que todas as crianças devem ter a oportunidade de desenvolver ilimitadamente seu potencial e viver de forma plena, livre das influências destrutivas na sociedade. Esse princípio continua sendo a força motriz das escolas Soka nos dias de hoje.

Devemos acabar com a tragédia da violência nas escolas, caso contrário, as ricas sementes de esperança e potencialidade do futuro serão destruídas pelas próprias crianças. Todas as vezes que visito as escolas Soka de Tóquio e de Kansai, digo abertamente aos estudantes que os maus tratos e a violência sempre são um erro e os encorajo a se empenharem juntos para acabar com os males da sociedade.

Naturalmente, meu apelo aos estudantes não é nenhuma novidade. Para a grande maioria da população adulta, há um senso comum de que a rejeição à violência é a base de uma sociedade civilizada. Infelizmente, como observamos ultimamente, não podemos mais afirmar que essa seja a norma de conduta social. Apesar de os casos registrados de violência nas escolas e de outros crimes juvenis, bem como de má conduta, não tenham aumentado drasticamente em anos recentes, o problema não é definido simplesmente pela freqüência de sua ocorrência. Seria mais recomendável examinarmos atentamente a natureza específica do problema. Se não encararmos seriamente essa realidade, qualquer apelo para acabar com a violência falhará em atingir o coração da criança, e em vez disso, soará como frases vazias.

Precisamos, em primeiro lugar, de coragem se quisermos acabar com a violência nas escolas — o tipo de coragem que não nos deixe sucumbir nem permanecer como meros espectadores em face do mal. Quando reunirmos esse tipo de coragem, os maus tratos como também outros tipos de violência, inevitavelmente serão rejeitados. A questão é se somos ou não capazes de reunir essa coragem. Sobre a questão dos maus tratos, no ano passado, o Seikyo Shimbun publicou uma série de diálogos que realizei com vários jovens que estão regularmente em contato com estudantes do ensino médio. A partir dessas conversas, pude constatar o quanto é difícil, para os pais e professores como também para os estudantes, serem pessoas realmente corajosas.


Aversão ao bem, aversão ao mal

A filósofa e escritora religiosa Simone Weil (1909–1943) observou com perspicácia que para os escritores de seus dias “as palavras que contêm uma referência ao bem e ao mal” passaram a ser “rejeitadas, especialmente, as que se referem ao bem” (288). É cada vez mais comum observarmos em nossos dias, quando as palavras relacionadas ao bem — não só coragem mas também esforço, paciência, amor e esperança — são referidas com cinismo e indiferença. O ambiente social em que vivemos é o de pessoas que, talvez receosas em serem julgadas pelos outros, hesitam até mesmo em pronunciar essas palavras. A menos que confrontemos o cinismo e a indiferença, seremos incapazes de apresentar soluções fundamentais e efetivas.

Essa subcorrente de mal-estar social e espiritual tem se propagado rapidamente em anos recentes. A pergunta “Por que é errado matar pessoas?” foi feita recentemente em um famoso programa de televisão japonesa. Ela então tornou-se título de um artigo em série de uma revista, que mais tarde foi publicada em livro (Nagai). Esse fenômeno nos oferece uma indicação de onde o problema reside: Mesmo quando os princípios consagrados pelo tempo e as virtudes estabelecidas pelas principais religiões mundiais, como proibições contra tirar a vida de um ser humano, são discutidas, pode-se facilmente imaginar a atitude prevalecente em relação ao comportamento coercivo e violento como os maus tratos. Acredito que devemos atentar para o fato de que o cinismo e a indiferença que corroem a sociedade na base são potencialmente mais perigosos do que qualquer ato de maldade individual.

Duas personalidades com quem publiquei uma série de diálogos, o famoso escritor russo de literatura infantil Albert A. Likhanov e Norman Cousins, conhecido como a “consciência da América”, compartilharam esse pensamento comigo. Eles alertaram rigorosamente para o perigo da indiferença e do cinismo diante do mal — muito mais do que o próprio mal — porque essas atitudes revelam uma total falta de apego à vida, um isolamento e fuga da realidade.

Citando as palavras paradoxais de Bruno Jasienski, Likhanov alerta sobre o profundo mal que a apatia inflige na alma de um jovem: Não tema os inimigos. O pior que eles podem fazer é matá-lo.

Não tema os amigos. O pior que eles podem fazer é traí-lo. Deve temer os que são indiferentes. Eles não matam nem traem, mas a traição e a matança ocorrem por consentirem calados. (Wakamonotati, 161)

Em outras palavras, nossa atitude de desviar o olhar da matança ou da traição é que permite que o mal prolifere sem fim. Similarmente, Cousins faz referência à seguinte declaração de Robert Louis Stevenson:

Abomino muito mais o cinismo do que o diabo, a não ser que sejam a mesma coisa. (48–49)

Ele expressa sua profunda preocupação de que o derrotismo e indecisão característicos de uma atitude pessimista venham a enfraquecer e destruir valores como o idealismo, a esperança e a confiança.

Um estado de vida controlado pela apatia e pelo cinismo torna-se imune a sentimentos de amor ou ódio, sofrimento ou alegria e retrai-se num mundo árido, alienado e de artifícios. A indiferença em relação ao mal implica em uma indiferença em relação ao bem. É constituída por um estado de vida desolador e um universo semântico distante do drama da vida da luta entre bem e mal.

As crianças com sua aguçada sensibilidade detectam rapidamente a apatia e o cinismo excessivos do mundo dos adultos despojado de valores. Talvez seja por essa razão que os adultos ficam apreensivos quando vêem no coração das crianças uma escuridão lúgubre e familiar.

O mal, da mesma forma que o bem, é uma realidade inegável. Sem o mal, não há o bem, e sem o bem, não há o mal: eles coexistem e são definidos por sua complementaridade. Dependendo da resposta ou da reação da pessoa, o mal pode ser transformado em bem ou o bem em mal. Nesse sentido, ambos são relativos e transmutáveis. Devemos, portanto, reconhecer que o bem e o mal são definidos em relação ao seu oposto ou o “outro”, e que o “eu” é definido por essa dinâmica.


O “eu” na ausência do “outro”

No budismo temos o conceito de “inseparabilidade do bem e do mal” (zen’aku funi) e “a neutralidade fundamental da vida em relação ao bem e ao mal” (zen’aku muki)[Nitiren, Escritos]. Exemplificando, para o Buda histórico Sakyamuni (que representa o bem) atingir a iluminação e, portanto, cumprir o propósito de sua vida neste mundo, tinha de existir uma oposição, o “outro” ou o mal, nesse caso, seu primo Devadatta que objetivava prejudicá-lo e então, destruí-lo. Em contraste, a incapacidade de reconhecer e conciliar com a existência do “outro” oposto é a falha fundamental de uma visão cínica e apática da vida, em que só o “eu” isolado existe.

Um sentido mais exato e satisfatório do “eu” é encontrado na totalidade da psique, que está inextrincavelmente ligada ao “outro”. Carl Jung (1875–1961) distinguia entre “ego”, que se refere somente ao aspecto externo da psique, e o “eu”, que está relacionado ao interior e unifica o consciente e o inconsciente. No mundo da apatia e do cinismo encontramos somente uma percepção isolada do “eu” vagando pela superfície da consciência — que Jung se refere como “ego”.

O “eu” que não se identifica com o “outro” é insensível à dor, à angústia e ao sofrimento do “outro”. Isso tende a confiná-lo em seu próprio mundo, ou a sentir-se ameaçado ante a menor provocação e a reagir de modo violento, insensível e indiferente.

Eu ousaria dizer que essa mentalidade provê o solo para as ideologias fanáticas, como o fascismo e o bolchevismo que se estenderam por todo o século XX. Mais recentemente testemunhamos o surgimento da realidade virtual que também pode, creio eu, obscurecer ainda mais o “outro”. Visto sob essa luz, fica claro que nenhum de nós deve permanecer como mero espectador ou ver o comportamento problemático das crianças como responsabilidade de outras pessoas.

No curso de nosso diálogo, o estudioso sobre questões de paz Johan Galtung, mencionou que o pré-requisito para um “diálogo exterior” é um “diálogo interior” (64). Se o conceito do “outro” inexiste no “eu”, o verdadeiro diálogo não pode ocorrer.

Intercâmbios entre dois indivíduos que carecem da percepção do “outro” podem parecer diálogos, mas na realidade são simplesmente uma troca de declarações unilaterais. A comunicação inevitavelmente falha. O pior nesse tipo de espaço semântico — muitas vezes volúvel e vazio — é que as palavras perdem sua ressonância e são conseqüentemente extintas. A morte das palavras naturalmente significa a morte de um aspecto fundamental de nossa humanidade — a capacidade da fala que nos torna merecedores do nome Homo loquens. A realidade somente pode ser revelada por um genuíno diálogo em que o “eu” e o “outro” transcendem os limites do ego e se interagem totalmente. Essa percepção inclusiva da realidade expressa a espiritualidade humana transbordante de vitalidade e empatia.

No discurso que proferi na Universidade de Harvard em 1991, disse que a época requer um ethos de soft power. Declarei que uma espiritualidade interiormente motivada constitui a essência do soft power, que deriva de um processo dirigido para o interior do ser humano. Isso se torna manifesto quando a alma trava uma luta, passando por fases de sofrimento, conflito, ambivalência, reflexão amadurecida e, finalmente, decisão.

É somente nessa fornalha de intensos intercâmbios — o processo de apoio mútuo e incessante de diálogo interno e externo entre o “eu” e o “outro” profundamente interiorizado — que nosso ser é fortalecido e aprimorado — o podemos começar a compreender e confirmar a realidade de estarmos vivos. Somente então podemos evidenciar o brilho de uma espiritualidade universal que abarca toda a humanidade.


O domínio interior da alma e o sentimento religioso

Acredito que a herança espiritual da humanidade pode ser encontrada nas grandes obras literárias, consideradas a representação quintessencial do “eu” interior. Nesse sentido, gostaria de recorrer às Recordações da Casa dos Mortos, uma obra que marcou um momento decisivo na carreira de Dostoiévski como escritor.

O jovem Dostoiévski havia sido sentenciado, por defender ideais revolucionários, a quatro anos de trabalho forçado no frio extremo da Sibéria. Recordações da Casa dos Mortos é um registro inigualável das virtudes comuns da humanidade a ele reveladas por essa terrível provação.

Um homem do povo... nunca censura um criminoso com o crime que ele cometeu, não importa qual seja. Ele o perdoa por causa da sentença que cumpre. É por essa razão que o povo russo chama ao crime uma “infelicidade” e ao criminoso um “infeliz”. Essa definição é expressiva e profunda, embora inconsciente e instintiva. (55–56)

Um “infeliz” — uma escolha de palavra incomum, porém, rica em significado. Talvez isso mostre uma visão um tanto romântica de Dostoiévski do povo russo. Seja como for, acredito no discernimento de um grande escritor que vai além dos conceitos superficiais ao falar do domínio interior da alma.

Chamar um crime de “infelicidade” e um criminoso de “infeliz” revela uma percepção abrangente e inclusiva do “outro”. Nenhuma distinção é feita entre a própria pessoa e o criminoso; a expressão sobeja de uma relação de empatia.

Quando em meio às adversidades a empatia continua elevada, um saudável fluxo de comunicação prevalece. Por outro lado, a falta de consciência da conexão entre as pessoas indica o colapso da comunicação em uma sociedade. Incapazes de se comunicar, de reconhecer a dignidade da vida de uma pessoa, os seres humanos acabam numa controvérsia sem fim e incapazes de responder diretamente a questão: “Por que é errado matar?”

A arrogância, a raiz de todo o mal ideológico, faz pressupor que o indivíduo é bom e o “outro”, mau. Em contraste, o tipo de atitude descrito por Dostoiévski possibilita à pessoa perceber que uma outra compelida pelas circunstâncias ao mal pode ser também inspirada ao bem. Desse pensamento emana o expansivo “impulso de benevolência interior” (7) que Rousseau considerava como a base primordial da sociedade.

Essa benevolência natural ressoa perfeitamente com o que o Budismo Mahayana chama de caminho do Bodhisattva, o epítome que pode ser encontrado nas palavras do Bodhisattva Vimalakirti — “Pelo fato de todos os seres vivos adoecerem, eu adoeço” (65) — e no exemplo de Jesus de Nazaré que concentrava mais amor e compaixão a uma “ovelha desgarrada” do que a todo o rebanho. O tema comum nas últimas obras de Dostoiévski é a teodicéia, a doutrina da justiça divina na criação de um mundo em que ambos, bem e mal, coexistem. No cerne do pensamento de Rousseau sobre a educação está um sentimento religioso independente e livre dos dogmas e do autoritarismo eclesiáticos. Nota-se que na essência de sentimentos universais de empatia e espiritualidade, floresce alguma forma de sentimento religioso que é inerente nos seres humanos.

No século XX, um século de guerras e violência, constatamos também o brilho da luz da espiritualidade emanando das lutas de não-violência de Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr. Alguns podem indagar como suas lutas se transformaram em movimentos de massa e por que muitas pessoas ainda hoje adotam a não-violência. Assim como Gandhi, que declarou que a religião “oferece uma base moral para todas as outras atividades de que eles carecem” (63), acredito que a resposta está no que há por trás das palavras e ações desses líderes. Ambos tinham como base uma forte convicção religiosa, que os possibilitava permanecer inabaláveis ante quaisquer adversidades.


Ausência de Valores

O psicólogo norte-americano Abraham H. Maslow apresentou um importante conceito da educação da perspectiva da espiritualidade. De acordo com Maslow, o propósito fundamental da educação é “ajudar [o estudante] a ser o melhor possível, a tornar-se realmente aquilo que é potencialmente capaz” (49). Sua visão identifica-se com a de Makiguti, que colocava a felicidade dos alunos como centro do processo educacional.

Maslow insistia em dizer que nunca devemos desviar nossos olhos do “objetivo principal” e dos “valores fundamentais” da educação para que não percamos de vista o “potencial máximo” que os seres humanos podem atingir e acabemos confundindo nossas prioridades (50–52). O Japão, com sua atual crise educacional, deve achar sua advertência incômoda. Afinal, trata-se de uma crise que se arrasta por décadas de políticas educacionais moldadas pelas necessidades imediatas percebidas, sejam econômicas sejam militares.

Em minha opinião, os valores duradouros de Maslow aproximam-se dos aspectos filosóficos, religiosos e éticos e se equiparam ao cultivo da espiritualidade e do sentimento religioso.

Em novembro de 2000, tive a oportunidade de me encontrar com Victor Kazanjian, decano da cadeira de Vida Espiritual e Religiosa da Faculdade Wellesley, Estados Unidos, e um dos co-fundadores do projeto “Educar para Mudar”. Com aproximadamente 350 faculdades e universidades participantes de todos os Estados Unidos, o projeto visa à reforma do atual sistema educacional em que a relação entre indivíduos e entre os indivíduos e a sociedade está desgastada. O projeto visa ainda à inclusão da integridade e espiritualidade na educação.

O decano Kazanjian observou a crescente dissociação entre os valores espirituais e o aprimoramento intelectual, além da crescente tendência de ver a educação como um simples meio ou instrumento. Conseqüentemente, ele expressou suas elevadas esperanças em relação à educação humanística da Universidade Soka da América, que visa a formar indivíduos íntegros. Na realidade, esse objetivo é a essência e a ética condutora da educação Soka diligentemente desenvolvida desde os tempos de Makiguti.

A desordem na educação e a conseqüente escuridão que envolve a vida das crianças indica uma queda da capacidade de educar por parte da sociedade como um todo e de seus elementos constituintes — não só as instituições com responsabilidade formal para com as questões educacionais e religiosas mas também a família e a comunidade.

Nós não podemos continuar tratando somente dos sintomas desse mal. Não sou o único que acredita que atingimos um ponto em que devemos optar por uma estratégia abrangente. Maslow apresenta com perspicácia a questão: uma “educação sem valores” é de todo desejável? Talvez seja o momento de escolher uma resposta que ressoe com a espiritualidade e a fé nas profundezas do coração humano.

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