Share |

Tuesday, August 17, 2010

Educação humanística para criar valor e ser feliz

A maior busca da vida de Makiguti foi o estabelecimento de uma educação humanística em que seu objetivo seria essencialmente a felicidade das pessoas. Diante de um contexto sociocultural extremamente rígido, no Japão imerso num regime militar, suas idéias eram revolucionárias, pois questionaram as bases do sistema educacional vigente — e, em muitos casos, persistente no Japão e outros países ainda hoje.

Em resumo, pode-se dizer que Makiguti acreditava que os problemas da educação japonesa estariam focados em seis questões fundamentais:

1) o erro no estabelecimento do objetivo da educação;

2) o fato de não ter a felicidade como propósito final;

3) a incompreensão sobre o potencial criativo inerente ao ser humano;

4) o sistema educacional incorreto, focando na transferência de conhecimentos;

5) a falta de uma ciência sobre a educação;

6) e a ausência de uma parceria entre a escola, o lar e a comunidade no processo educativo.

Todas essas questões estão interligadas e têm como base fundamental a teoria da criação de valor exposta em sua obra Teoria do Sistema Educacional de Criação de Valores.

A teoria da criação de valor surgiu, então, de análises empíricas do professor Makiguti sobre o sistema educacional japonês. Partindo do pressuposto de que o objetivo fundamental da educação é a felicidade — a aspiração universal dos seres humanos —, e que, por isso, as práticas educacionais devem estar embasadas nas necessidades da vida diária e, portanto, não devem ficar a cargo do julgamento arbitrário de teóricos, Makiguti desenvolveu um amplo estudo sobre o modo de viver das pessoas.

Esses estudos originaram uma compreensão holística do que é a felicidade: não apenas satisfazer as necessidades básicas e de segurança individual (egocentrismo), mas assumir o comprometimento total com a vida da sociedade. Este conceito abrange, portanto, “tudo” que constitui felicidade. O indivíduo que opta por um único caminho nessa busca pela felicidade, concentrando seus esforços ou no acúmulo de riqueza, ou na busca de uma posição social elevada, por exemplo, não alcançaria a felicidade plena. Assim, conforme Makiguti, a educação deve levar o indivíduo a reconhecer seu compromisso com a sociedade e, com isso, criar a verdadeira felicidade em sua vida.

Aquilo que o indivíduo considera felicidade corresponde a seus valores. Num primeiro momento, a felicidade parece se restringir à auto-satisfação. Mas, com a criação de valores, esse conceito de felicidade ganha amplitude e dimensão social. Para Makiguti, o objetivo legítimo da educação é a criação de valor, é ajudar o ser humano a aprender a viver como criador de valor. E esta seria, na verdade, a própria essência do ser humano.

O professor acreditava que a criatividade seria expressa pelo homem desde que esse potencial não fosse reprimido ou destruído. A educação teria o papel de incentivar esse potencial e, com isso, conduzir o homem a utilizar sua criatividade para melhorar a própria vida e beneficiar a comunidade. Makiguti questionava o sistema educacional japonês que focava o treinamento para adiar a felicidade, colocando este fim como algo para o futuro. Ele escreveu: “Não é prerrogativa dos educadores decidir que a preparação para a vida adulta deve ser o objetivo da educação. (...) [Eles] devem entender que a escolarização que sacrifica a felicidade presente das crianças, fazendo da felicidade futura sua meta, viola a personalidade infantil e o próprio processo de aprendizagem.”1 Estaria na natureza humana a criação de valores para ser feliz no presente, concretizando ações de acordo com o estágio de vida do indivíduo.

Segundo o professor David Norton,2 Makiguti acreditava que a cada estágio equivaleria um tipo peculiar de realização e de felicidade, e os valores, virtudes e obrigações intrínsecos a cada estágio devem ser preenchidos na infância, e não adiados para a idade adulta.

Nesse contexto, os professores teriam o papel de orientadores no processo de aprendizagem dos indivíduos. A responsabilidade pela busca de informações seria dos estudantes junto aos livros, incentivando os esforços de autoconhecimento e provocando o interesse e a curiosidade natural. Os educadores também precisariam desenvolver uma ciência sobre a educação, buscando princípios universais do processo de aprendizagem, avaliando experiências e opiniões convergentes e divergentes sobre o sistema educacional com o uso da metodologia científica.

Além disso, Makiguti defendeu que existem papéis e responsabilidades específicos à escola, ao lar e à comunidade na educação. Seriam atributos intransferíveis e complementares. Para o educador, “o estudo não deve ser visto como preparação para a vida; ao contrário, ele deve acontecer enquanto se vive, e o viver acontece em meio ao estudo. Estudo e vida real precisam ser considerados mais do que paralelos; pois devem trocar informações entre si e as interpenetrar de acordo com cada contexto, o estudo na vida e a vida no estudo, por toda a existência do indivíduo”.3

De acordo com Dayle Bethel,“o conceito de aprendizagem proposto por Makiguti alterou radicalmente a concepção tradicional. No seu modelo, o aluno é o centro do processo de aprendizagem, e não a escola. O currículo básico é organizado de acordo com a natureza do indivíduo e a estrutura social (local, nacional, regional e global). O educador é um orientador, cuja função principal é encorajar e motivar o aluno na busca de objetivos de aprendizagem e na autodeterminação de conhecimentos, bem como auxiliá-lo na remoção de obstáculos que possam retardar ou impedir o processo de aprendizagem.” Bethel conta que esses princípios contrastaram radicalmente com as políticas e práticas educacionais do Japão, e que se as propostas de Makiguti fossem adotadas, a natureza da educação e da sociedade japonesa teria passado por mudanças profundas.

No comments:

Post a Comment