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Monday, August 16, 2010

Reformas fundamentais nas universidades [por Daisaku Ikeda]


Gostaria de discorrer a seguir a respeito do sistema de exames vestibulares, que é o principal problema a ser tratado na reforma educacional no Japão. Atualmente, enquanto a já excessiva pressão dos exames se intensifica, ocorre um outro problema sério: a tendência de transformar o ensino de nível médio em mera fase preparatória para o ingresso nas universidades. Agora que o tamanho das famílias está diminuindo e a pressão para o acesso ao ensino superior é menor, a sociedade japonesa tem uma boa oportunidade para rever esse método e renová-lo de forma que seja realmente benéfico tanto para os estudantes como para as universidades.

Algo que deve ser considerado primeiro é a diversificação do processo de admissão. Acredito ser necessário aperfeiçoar o atual sistema de vestibulares. É preciso que deixe de ser um exame seletivo de “peneiração” para tornar-se um teste de aptidão para o ingresso em uma universidade. Os exames para admissão universitária não deveriam limitar-se às provas escritas. Oportunidades mais amplas devem ser oferecidas mediante processos diversificados tais como admissão em áreas de aptidões e virtudes especiais; todos esses esforços devem respeitar e estimular o desejo dos candidatos de aprendizado.

O início do ano letivo universitário também deveria ser mudado de abril para setembro,8 para facilitar tanto a transição dos atuais estudantes e daqueles que estão retornando dos estudos no exterior como também para proporcionar tempo e várias oportunidades aos que acabaram de se formar no nível médio e estão para ingressar na universidade. Esse período poderia ser usado como uma oportunidade para adquirir experiência na sociedade, para ler extensivamente e ponderar cuidadosamente sobre a vida.

A esse respeito, gostaria de tratar da qualidade do ensino universitário. Existe, antes de mais nada, a necessidade de reconsiderarmos o ensino em termos de inclusão tanto de especialização como de educação ampla e aprofundada. Em uma sociedade em rápida mudança, as disciplinas acadêmicas tendem a se subdividir e a se especializar ainda mais, reduzindo o peso das matérias de Ciências Humanas no currículo universitário. Isso limitará a educação que um estudante pode receber. As Ciências Humanas nas universidades japonesas carecem atualmente de um objetivo ou princípio bem definido e, por essa razão, gostaria de clamar por uma reavaliação da forma como tratamos essa área fundamental. Ao mesmo tempo, devemos expandir a educação em campos especializados e assegurar a coordenação com os cursos oferecidos nas escolas de pós-graduação.


As contribuições da Universidade Soka

É vital definirmos a direção ideal para a educação humanística e criar uma nova corrente de educação para o século XXI. O campus da Universidade Soka da América em Aliso Viejo será inaugurado em 2001 como uma Faculdade de Ciências Humanas que oferecerá uma educação ampla e aprofundada e que também preparará os estudantes para buscarem outros cursos especializados de estudo, incluindo os de pós-graduação. Como seu fundador, estou comprometido com esse audacioso experimento e a plena implementação dos ideais da educação criadora de valores.

Em todas as áreas da educação universitária, mas em especial a de Ciências Humanas, precisamos acabar com as demarcações cerradas entre departamentos e adotar um método coordenado e interdisciplinar. Para esse fim, os professores devem estar impelidos a reformar totalmente seus métodos de ensino. Uma das razões de muitos estudantes não acharem as aulas atrativas é seu conteúdo ultrapassado que se repete ano após ano. Já me referi à deficiência do sistema de ensino nas escolas: esses problemas enfrentados pelas universidades tendem a ser negligenciados.

O relatório provisório do Conselho Universitário do Ministério da Educação enfatizou a necessidade de elevar a proficiência do ensino dos professores universitários. Estes devem empreender incessantes esforços para melhorar a qualidade das aulas e evitar a inércia e especialmente impedir que a qualidade da educação universitária seja prejudicada.

A Universidade Soka no Japão abriu este ano um Centro para Excelência de Ensino e Aprendizado. O Centro apoiará o corpo docente em vários projetos para desenvolver métodos de ensino inovadores e também oferecer assistência aos estudantes a fim de desenvolver neles a habilidade para solucionar dificuldades por si sós.

Na Universidade Soka da América, estudantes e professores participarão do Currículo Fundamental, uma série única de quatro cursos com enfoque em importantes questões com que nosso mundo se depara no século XXI:

O que é a vida humana?

Qual é a relação entre o indivíduo e o ambiente físico em que vivemos?

Qual é a relação entre o indivíduo e o ambiente humano em que vivemos?

Questões globais sobre a paz, a cultura e a educação.

Cada questão será tratada de várias perspectivas — histórica, multicultural, analítica e experimental — a fim de oferecer a base para o aprendizado contínuo.

Creio que também no Japão a educação na área de Ciências Humanas deve ser o elemento fundamental na primeira metade de cada grau do curso universitário, por oferecer uma compreensão ampla de humanidade. Para a segunda metade do curso, precisamos tornar a administração universitária mais flexível, isto é, introduzir um sistema duas vezes maior e estabelecer um sistema que permita compatibilizar créditos e transferências entre escolas para possibilitar aos estudantes mudarem para universidades em áreas acadêmicas especializadas.

Na hora de optar por uma universidade, os estudantes inclinam-se a priorizar aquelas que são mais fáceis de ingressar. Se essa situação persistir, jamais teremos resultados positivos para os estudantes nem para as universidades. A fim de evitar que isso ocorra, as universidades devem cooperar oferecendo aulas nas áreas que os estudantes realmente desejam seguir. Durante sua permanência na universidade, conforme o interesse dos alunos aumenta, eles tendem a querer mudar para cursos de uma área completamente diferente, o que implicará na mudança para uma outra universidade. O sistema atual, no entanto, não permite a transferência de créditos, desencorajando dessa forma esse processo.

Em reação a isso, universidades de algumas partes do Japão começaram a formar alianças possibilitando a transferência de créditos. Essas são reformas audaciosas e de grande importância que beneficiarão os estudantes. O ideal seria que os alunos pudessem estudar o que desejam, quando e onde quiserem. Para conseguirmos isso, precisamos conferir mobilidade, concentrando na disciplina e especialização acadêmica, não universitária. Isso fará parte do desenvolvimento de um sistema educacional vitalício.

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